domingo, 16 de novembro de 2008

NO VIÉS DO ESPELHO

Você vai calçar seu par de tênis vermelho,e me dizer que tudo mudou. Por trás dos seus olhos de estrelas, estão seus óculos.
E em sua visão mais profunda mora uma insistente intolerância.

Calma, não sei se posso lhe amar.Calma, acho a "conquista" um saco. Pra se olhar no espelho não precisa estar acompanhado.

Não vou jogar fora alguns velhos escritos. Na parede da memória algumas lembranças me doem mais;é certo também o quanto paráfrases são necessárias.

Talvez, o melhor agora seja contemplar aquelas listras em blusas nas vitrines. Esperar alguma novidade, alguma moda.
Torcer pra que tudo esteja sempre bem.Quando o orgulho é o próprio umbigo, vale pouco qualquer outra vida.

Dentro do box, no banheiro,vou aplaudir qualquer outra neurose que eu tome como genialidade. Os pingos d´água vão molhar o chão do quarto. Vou sorrir a contento; lembrar o quanto é bom estar só.

Calma, não sei se posso lhe amar.
Calma, acho a "conquista" um saco.
Pra se olhar no espelho não precisa estar acompanhado.

... no viés do espelho escancara-se qualquer farsa ...

gardenia dultra, 1998.

A PERMANÊNCIA NO JOGO

Seu sangue branco escorre pelas narinas. Evidencia certa realidade de potência, mas não lhe dá paz. O genuíno sangue talvez já não exista. A mão pela testa, pelo suor - sua força liberada. Vontade depositada entre o movimento e a inércia. Passa pela sua cabeça que a paz é um porto morto e parado. E que o contrário está em alto mar. Os olhos por mapas nas paredes. Tenta ver a medida entre pontos distintos e não opostos. Talvez um falso equilíbrio distante. Delirante?

Reconsidera suas mãos ao acaso. Retira-se da estrada que lhe é fatal. O caminho induzido é o não-ser. E agora não existe alegrias nem tristezas. Só algumas idades, cálculos, a métrica do passo. A contradança. A PERMANÊNCIA NO JOGO.




gardenia dultra, 2003.

GAME

O MEDO DA PERDA DO OBJETO VIRTUAL.
O MEDO VIRTUAL DA PERDA DO OBJETO.
OBJETO DA PERDA DO MEDO VIRTUAL.
OBJETO VIRTUAL DA PERDA DO MEDO.
PERDA DO MEDO DO OBJETO VIRTUAL.
PERDA VIRTUAL DO OBJETO DO MEDO.

jOGANDO COM AS PEDRAS.
ESCOLHA UMA:
LOTERIA E FOGO,
PERDA E MEDO.

A CABEÇA RI DOS ERROS QUE ELA COMETE.
A CABEÇA BERRA

COM OS ERROS QUE SE REPETEM.
A CABEÇA GIRA COM OS ERROS QUE LHE REMETEM.
A CABEÇA É BERRO DOS ERROS QUE SE COMETEM.
A CABEÇA ERRA COM OS RISOS QUE SE REPETEM.

JOGANDO COM AS PEDRAS.
ESCOLHA UMA:
LOTERIA E
JOGO

RISO E FOGO.


gardenia dultra, 29.07.2003

domingo, 2 de novembro de 2008

METÁFRICA

Mama África que me ensinou
A viver na superfície das veias profundas da dor
Mama África te quero bem
Teu bem, também, menino que chora no peito seco da ama
Mama África não tem volta
Açoitam no lombo de nego brabo
A aids e a pneumonia branca
Quizumba, calango, quilombo

Que dançam de déu em

u

, de dor em dor
Bicho do chão, bicho da flor
Crioulo doido, crioulo bamba
Sapateando
Na fina flor do horror
Se essa dor ainda foi pouca
Se ainda lhe resta a inspiração
Se faz da morte uma criação
Não abusa, não abusa não
Que plantas irão surgir regadas por tantas lágrimas



SSA, 16/10/2001

Um Não Provoca Estranhas Sensações

Vou destruir a minha dor sem me lembrar de você
A volta pra casa é fria
E meus filhos estão por toda parte
O vento sopra sentimentos desencontros e desencantos

Qual o melhor lugar para falar de amor
Para se expor, para apelar?

Vou querer estar só
Quando a ceia for posta
Não comentarei o sabor nem o prato
A dor provoca o silêncio
A solidão é silêncio

O louco dá a cara
O médico dá a mão
O monstro e sua bengala

O que será daqui pra frente
Quando um filho nasce morto
Quando um filho nasce torto?
O seu rosto deve ganhar a escuridão
Como um Quasímodo bem comportado e dócil
A espera da hora exata das migalhas que agora é o seu pão ?

Não terei Notredame para me refugiar...

Quem saberá o meu nome quando eu for livre?
Quem saberá o seu?

Março 2000

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Amplitude da Cela

Minha garganta panela de pressão.
Derrete palavras e emoções nunca bem processadas.
Minha garganta bichinhos de Amelie Poulin.
E algumas outras bobagens
Chama todos esses bichanos de rua e esses meninos de gozo rápido
E emoções nunca bem processadas assim
Com suas cabeças de panelas de pressão
Saio machucada, e hoje é uma terça quase segunda, onde torpores devem retrair-se
E a solidão, toooooooooooooooda, deve ganhar a amplitude da cela, do céu
Porque eis que o homem achou de bem dizer a solidão
Achou de pô-la no altar dos sentimentos nobres
E eu só quero vulgarizar dores, amores também,
Até pô-los à venda, comprá-los ainda mais
E me render à mercadoria que todos sempre fomos
Sem mágoas, se culpas

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Zele por mim, oh barco ébrio

"Ah, Bahia, Bahia que não me sai do pensamento".
Bahia, que não me sai do pensamento com seus enormes pequenos tormentos.
Cartões postais, e Pelourinhos,
E pedras irregulares que tantos negros sangraram para por nos seus devidos lugares
E hoje, pedras nos cachimbos de meninos também negros querendo um lugar
Um lugar não sei se tão devido assim
Pedras ainda vão rolar nas cabeças dos negros desse lugar
Bahia que não me sai do pensamento
As fitas desse Bonfim, "Oh zelem por mim"
Agora, algemam meu punhos numa alegria já mortificada
Eu já não sou desse lugar que não me sai do pensamento
Navio atracado na baía
Zele por mim Baudelaire

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

PARES PERFEITOS




O são jorge e o dragão. O daniel e os leões. O tom e o jerry. A pepsi e a coca. O cigarro e o café. O feijão com o arroz. O queijo com a goiabada. O romeu e a julieta. A polícia e o bandido. O esperto e otário. O médico e o monstro. A bela e a fera. O escroque e o ingênuo. O tirano e o submisso. O senhor e o escravo. O passivo e o ativo. O corrupto e o apolítico. A formiga e a cigarra. A noite e o dia. O desejo e o sabor. O medo e a coragem. As palavras e qualquer coisa. Qualquer coisa e um espelho.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

AS MELHORES CAPAS DE DISCO DE VINIL

Hoje me baixou um espírito "Ernestiano". Ernesto é um amigo que conheço desde o remoto 1988 no Colégio Dois de Julho, onde ambos fomos cordialmente convidados a pedir transferência, não por péssimas notas, mas ... digamos assim ... éramos punks. Bom, Ernesto (este nome é por causa do Che, mesmo, o pai dele é de esquerda)tem mania de fazer lista. Tipo: as melhores músicas de todos os tempos ou as piores; os diálogos mais sensacionais do cinema; os piores filmes de todos os tempos... a listagem é grande, e haja cerveja ... e saco ... Mas eu costumo me divertir, Ernesto é, acima de tudo, divertido, os pobres mortais ainda não descobriram isso.

Bom, ressalva feita. O espírito "Ernestiano" é o seguinte: vou fazer minha listinha das melhores capas de disco de vinil de TODOS OS TEMPOS (hahahahahahahahahahah). Esse TODOS OS TEMPOS é importante. Não, pera aí, fundamental; não, é esssencial; não, é CRUCIAL (hahahahahah).

Então vai lá.



Sex Pistols1977
O início da era punk. Para "estarrar" a P* da monarquia e da ilusão paz e amor.
Estilo, moda, efêmero, guitarras, sexo, política, o mundo nunca mais seria ingênuo.

Eu poderia dizer: "todas as capas criadas por Elifas Andreato, todas!!!!!!!!!!!!!!!!! são geniais". A Ópera do Malandro entra aqui só pela Geni (heuheueheheueueueheuhuehuehuehuehueueuhehueheuheu).


Velvet Underground and Nico (a bela louca)
Capa de, ninguém menos, Andy Warhol, tá santa(o)?! Simplesmente um dos pais do pop.
1967

Elis ReginaFalso Brilhante
1976
A capa "soa" como um "procura-se" do velho oeste. E é assim que devemos tratar esses falsos brilhantes, caçando, matando. Simbolicamente, é claro, não, vivo. Oh, meu Deus, tudo agora é propaganda, que m*, e eu que vivo disso? Sou uma desnaturada mesmo!
Não sei de quem é a capa. Por favor, quem souber, não morre, me diga, hahahahahahah.
Faixas:
Como nossos pais
(Belchior)
Velha roupa colorida
(Belchior)
Los hermanos
(A.Yupanqui)
Um por todos
(Aldir Blanc - João Bosco)
Fascinação (Fascination)
(Feraudy - Marchetti)
Jardins de infância
(Aldir Blanc - João Bosco)
Quero
(Thomas Roth)
Gracias a la vida
(Violeta Parra)
O cavaleiro e os moinhos
(Aldir Blanc - João Bosco)
Tatuagem
(Ruy Guerra - Chico Buarque)


Pink Floyd
The Wall
Ano: Ano de lançamento 1979
Não sei quem criou a capa, mas sei que o disco trata das neuroses causadas pela escola, igreja, pátria, indústria, AH E PELA GRATA FAMÍLIA, HEI MATHER!!!!!!!!!!


Beatles
Abbey Road (todas as capas desses caras são f* e referência até hoje, escolhi essa por ser a mais cercada de lendas: tipo Paul está descalço pois já estava morto, etc. Essas maluquices do mundo pop.
1969
Foto: Iain MacMillan, morto em 2006 aos 67.


Roberto Menescal (o cara era mergulhador, mesmo, quase não ia ao concerto do Carnegie Hall só pra pescar)1963
Layout da capa: César G. Villela
Fotos: Francisco Pereira


BOM, A LISTA É GRANDE, TALVEZ AMANHÃ CONTINUE, OU NÃO, HAHAHAHAHAHAH, BEM AO ESTILO CAETANO, É ISSO, OU NEM TANTO OU TANTO FAZ OU NÃO TOU NEM AÍ OU EGÜINHA POCOTÓ, OU SEI LÁ, ENTENDE?, OU PELÉ, OU MEU NOME É ZÉ PEQUENO PORRA! POR HOJE SÓ AMANHÃ FIU! OU, OPS FUI!







quinta-feira, 11 de setembro de 2008

CIDADE GLAUBER ME INSPIRA UM TRANSE


Meu coração vagueia cidade
Meus olhos lacrimejam reggae
Solto pipas com os pés pelas ruas de uma cidade finda
Repito refrôes e cerco loucos
Engulo chicletes
Faço listas para escapar dos otários, das polícias, dos bandidos
Dos que velam o meu corpo dizendo leviandades de amor
Dos que juram a minha alma - dar-se aí - a provérbios e palavras repetidas e sem nexo
Tenho tudo, menos medo
Mil angústias, menos medo
Menos medo é meu coração aberto
Alvo de um franco atirador de mazelas
Alvo
Menos medo
Não espero do amanhã o que cuspiram em meu passado
Nego, nego até o último instante que um dia negarei as minhas ofensas
Esta cidade não me inspira Caymmi
Esta cidade Glauber me inspira um transe
TENHO TUDO MENOS MEDO

terça-feira, 24 de junho de 2008

São João hip hop

São João hip hop sounds
Bandeirolas enfeitam a minha nostalgia
e Balaços abrem o dia-a-dia da realidade
Fria?
Aqui não se sente aqui
Meus pés jamais sorrirão por lugares que já não virei
e vejo todos os mitos em que acreditei eram mais fiéis que a verdade

domingo, 8 de junho de 2008

T_shirt

as pessoas também são conhecidas pelas drogas que elas usam
pelos males por onde navegam
anorexia bulimia hipocondria
quero saber em qual comunidade você navega
qual o site da sua dor?
qual a camiseta que vai vestir para lavar a sua alma?

sábado, 7 de junho de 2008

T_shirt

As drogas também servem para apresentar as pessoas
Os males por onde navegam as pessoas são como etiquetas para identificá-las
Anorexia, Bulimia, hipocondria
Qual comunidade você navega?
Qual o site da sua dor?
Qual a camiseta que vai vestir para lavar a sua alma?

sábado, 24 de maio de 2008

Auschwitz alzheimer alcatraz

Auschwitz alzheimer alcatraz

O meu tio tem 80 anos e anda dizendo que sente a falta dos pais
A mãe de uma amiga diz que sua boneca plástica está crescendo muito rápido
A minha amiga disse, com um sorriso nervoso, que escreveu na agenda: "comprar uma árvore", e jura nem saber do que se trata
Meu amigo disse que vai substituir o x que ele faz no calendário por bolinhas, talvez assim ele se dê melhor no jogo, é o que pensa
Minha amiga funcionária disse que quando tinha tempo não tinha dinheiro, agora que tem dinheiro não tem tempo
eu perguntai a ela : " e eu que não tenho tempo nem dinheiro?"
Ela quase sorriu e disse que eu era café-com-leite
Eu sorri de verdade e concordei, ela disse que eu concordava com tudo
e eu concordei

terça-feira, 6 de maio de 2008

A TRAGÉDIA É UMA TELEVISÃO DE PLASMA

Dias anos bandeiras
e não era o tempo e o vento pois que o tempo era o vento
corpo espaço tremular de ares e redemoinhos
foi-se, um imperativo
forte, substantivo abstrato
gramáticas são línguas torpes
verdades sinônimos de quimeras
e a tragédia é uma televisão de plasma
nesses segundos por trás de um dia
uma segurança de aviões de pau brasil e barco a velas

Corpo lacre

Bato de um lado pro outro Tento correr tento escapar Dessas paredes dessas correntes que laçam as minhas pernas Esqueci mas é que essa pena vai durar toda a minha vida E enquanto dela eu viver Não tenho como fugir É meu corpo meu limite no mundo Veias correntes que me prendem ao chão Tento voar através de qualquer De qualquer gozo que me faça escorregar Compulsivo compulsório Soltar a língua soltar o corpo Descarregar barreiras Essa droga de nó Esses braços que são de si mesmos algemas Essa cabeça que é sua própria forca Veias de represar velhas dores Novas formas de torturas Cabeça tonta e impensante Mas se pensa tanto faz não consegue pensar nada fora do corpo Comida dinheiro paixão remédio tristeza puteiro solidão drogas doença vida morte corpo prisão
04.12.06

UMA LUZ QUE CEGA

A tua luz, Salvador, me cega. Mas eis que de repente, me sinto alerta. Não mais naquele estado de sono constante, não mais naquela eternidade em que me pus e fui posta. Sabes tu o que queres de mim? Eu não me engano mais Pois sei que sou passível de enganos. Se tua luz não deixa dúvidas, é porque cegas as tentativas que não são tão óbvias assim. E se me queres sambando, não vais me ter, agora já sei diferentes compassos. A minha sina é te driblar

AQUI PERTINHO, TÃO LOOONGE

EU SEI QUE TEM ALGUMA COISA AQUI QUE ESTÁ LONGE
O MEU OLHAR, O MEU DESEJO DE TOCAR, MINHA SALIVA ÁCIDA
TEM UMA COISA AQUI PERTINHO, TÃO LOOONGE
SE DESFEZ AGORA MESMO
E JÁ VOLTOU
SE É UM IMPULSO
UM PULSO
OU EU ME DERRETENDO
BATO PALMAS, ALEGRIAS E VOZES
NO SALÃO DE FESTAS
JÁ NÃO SOU EU
PASSOU UM OLHAR
UM INSTANTE, A FUMAÇA
E
O
GOZO
FICOU, UM

o cilindro mágico

Sabe,
eu sei que tudo é tão pouco
até o fim dos dias
e tudo que eu faço é em nome disso
Não que eu exija razão
Não que eu exija perdão
É só a vida que deve ser
E por não ter o cilindro mágico
hordas estão querendo me decaptar
Sem o cilindro mágico, hordas vem me decaptar
Entendo a mensagem: siga com a cabeça baixa!
Sedenta por um gabarito da impossibilidade
Mas eu sei, hoje é dia de errar mais uma vez
Feliz, agora estou, errar mais uma vez

terça-feira, 22 de abril de 2008

AUTÔMATOS

já ouvi "todas essas coisas tem a força de um inferno"
e continuo com um assombro Lispector
prossigo pasma que nem a GH diante da barata
bem antes de mim elas já estavam aí – o caldo da vida a perfurar crateras e sucumbir gente
enquanto máquinas, furadeiras, motosserras
preparam seus exércitos de homens húmus
desejos de automação para construir vidas, infernos
e essas coisas que não param e talvez nunca vão parar
sempre no canto o traçado da geometria
vai vazar, vai sangrar e são nas bordas onde as pessoas vão estar
forçando contagens regressivas vinganças
e nêmeses estelares brilhando e acenando frenéticas
meu próximo passo será o teu passado
a perfeição é genética da alegoria do controle
o controle é o desespero de quem ordena, o desespero é a
máxima certeza do erro

Volta super rápida de trás pra frente

A fumaça batia a cara no vento
O horizonte seguia até a moto
Que transportava estradas
O corpo emoldurava invólucros
Até cidades construir tijolos
Anões carregando gigantes
E raízes brotando sementes
Velhos tronavam-se crianças
E dinheiro chegando até a mão
E a gaveta guardando roupas
Até meu corpo despi-las
A involução do Katrina
O velho blues tocava na esquiva
Onde mijos construíam cachorros
No ar, o tapa na cara
Atrás do coração uma palavra boba
Onde postes seguravam mijos
E o latido ia pra boca do cão
No ar a cara no tapa
O desencontro atrai uma palavra boba

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Como no vento

o vai nem sempre vem
o vem nem sempre vai
o vai e vem
meus sentimentos soltos
nem sempre livres
mas a luz do dia há de mostrar todas as novas possibilidades
sem sustos do susto
entre surpresas
e uma certeza: não há mais tanto tempo para ser triste.

28.08.2006

distanciando

há aqui uma coisa a menos, uma alegria, uma disposição, uma esperança
há aqui uma coisa a mais, uma tristeza, uma prostração, um desencanto

um dia, esperei chegar (foi longa a espera...)
e quando aconteceu, me atirei veloz
pensei que isso fosse me fazer acertar mais
escondi certas mazelas
ate sonhando com o presente
agora, quando uma ausência mostra toda a sua intensidade
não sei se nego, não sei se afirmo
é como um faz-de-contas de mal gosto
uma previsível brincadeira de playground
e quem está do meu lado tem isso como trunfo: em suas mãos as minhas vísceras, o meu pulsar
eu sou um trunfo, um brinquedo, um jogo de azar
mas eu também dou de rasgar máscaras e vestir outras máscaras,
e, se no jogo, o lance é não terminar
pus ali um ponto, e dobrei a esquina
ainda tenho muito a acertar comigo mesma

quinta-feira, 17 de abril de 2008

dói pela perda dói pela falta dói simplesmen

crédito da imagem
nunca quis olhar no espelho e reconhecer minhas falhas no trato com o amor
dói pela perda dói pela falta dói simplesmente
sensações de tapa na cara quando o que se tem do outro
são condicionais de um amor incondicional
e apostas altas ropendo espaços sagrados
vou tentar aprender a lidar com a ausência como uma leve saudade
e deixar de pensar "como você não soube cuidar da pessoa bacana que sou eu?"
pois que eu nunca soube também
nunca quis olhar no espelho e reconhecer minhas falhas

no trato como o amor e comigo
19.12.2006/16.04.2008

Incelência para o novo amor

nas paradas dos ônibus
exala qualquer coisa de segunda
a cidade daqui é longe, quão perto estou de estar muito só
toda força que agora chamo é pela lucidez exata para o próximo beijo
de bocas que assumem tristezas
e reconhecem não apenas no desespero a próxima alegria
ainda não sei dizer o que se passou comigo, com você, o seu adeus
a sua saliva que agora cospe sobre mim
e que antes era sorve-te de prazer
a minha dificuldade de reconhecer transformações
no paradoxo de acreditar em tudo para além de mim
não contente em estar por aqui
assim, olhos quentes olhos frios varrendo paisagens
realidades de imperfeições,
delírios de perfeições
tão só como os loucos, brincando de ver através de almas
meu corpo cimenta ilusões
pra quê?!
essa cidade me acena longe nesse meu tema recorrente.
11.12.2006

terça-feira, 15 de abril de 2008

autômatos

Autocensura


quando a luz vem intensa demonstrando fraquezas, eu sou quase uma hélice que me faz clarar
mas não acredito que haja só clarão
como ela um dia quiz me dizer
fugindo a qualquer custo da dor, fez sofrer muito mais
as ventanias tão intensas que essas brisas escondem
são como um estado de alerta
mas o alarme nunca vai soar
e quando saberemos que estamos em perigo?
não queira se esconder, há um claro-escuro
minta, mas minta só pra você
jogue tapetes sobre o chão
pinte as paisagens com flores de plástico
enfeite seu quarto com sorrisos senis
e tente dormir tranqüila
o prólogo diz: "paira no noite as incertezas velozes, vespas sobrevoando bocas, crianças correndo loucas"
aqui você não verá apenas o visto na tevê
aqui você não apenas o visto na tevê
boa noite, boa sorte

Rouca

já tentei muros, os absurdos
nada que tivesse sentido
soube fazer acalmar
já ouvi tim maia
já rasguei a cara
já caí no chão

segunda-feira, 14 de abril de 2008

gritando sem voz

acordo madrugada quente e penso em correr
mas o sonho é mais forte
meu corpo responde com lobotomia a suas próprias demandas
meu corpo descamba para ausências infinitas
e se redime cansado das ladeiras que fujo escapo de enfrentar
há dinheiro pregado em pequenos balões fugitivos por toda parte
martelos pesados doem mais na cabeça que no pé
os bem humorados sabem bem como fugir
o amargo do estômago não me deixa rir
meu humor amargo não me deixa escapar
das garras possessivas da Grande Águia do Tédio - a entidade maior
alguns loucos têm poor hobby os filhos
os loucos cuidam dos seus brinquedos como visgos
matar a maternidade paternidade pra melhor olhar a vida
sem essas casinhas de brinquedos tão familiares - tão dura doce prisão
leite infeliz que alimenta sofrimentos brancos
qualquer inocente quando preso torna-se vilão
a prisão vilaniza, pois ela pressupõem a posse da chave na mão de outrem
precisamos roubar as chaves
ou precisamos arrombar as grades
ou elaborar qualquer outro plano de fuga
coisas que fazem do prisioneiro um infrator de leis
ou prisioneiro mantem-se ou perseguido torna-se
da guilhotina e da prisão Julien de Sorel não se deixou escapar
era o vermelho e o negro
o corte e a ferida
quando consigo rir do sangue que escorre me sinto melhor
do resto, é só cansaço.

24.03.2004

tocar o sol pra aquecer meu corpo longe

pra mim só vale o conforto da sombra da árvore ou a violência do confronto corrosivo do asfalto na cara
vai pluma branca arrebata e bate a cara dessas meias palavras que estou tão farta. Farta do meio campo: metade corpo, metade máquina. carne moída é como máquina, produz dinheiro e produz triteza, produz bem estar e maldição. não vou mais recusar tocar o sol para aquecer meu corpo longe.
Quá, quá.
(Dias D´Avila, 05.07.2005)

sábado, 12 de abril de 2008

Old years

Não, eu não vou postar só porque é meu aniversário e tenho algo especial pra dizer
heuhuheuehuehehehuehuheuheuhu
Já postei (sic)

terça-feira, 8 de abril de 2008

fantasmas! belas companhias!

fantasmas! belas companhias!
doenças ou tiros, melhor, quiçá!
vamos brincar de roda, outra, talvez
esquizofrênicos estão vivos, melhor pra quem?
aceito drogas nas veias, na testa, pânicos e sustos, desde que sejam dados com luvas brancas
mais quá, foi minha mãe quem disse, e eu acatei, ora bolas
vejamos, vamos brincando
tenho irmãos tão longe
e seleciono pestes - mais uma vez
esse prazer me atrai, ou tanto faz
não concordo nem discordo, muito pelo contrário
quem já dizia?
choro, mesmo antes de estar rendida - choro rendida!
no meio de gente que só segue em frente, e nada mais!
anestésico perfeito, orvalho, flores para enfeitar rotinas
um macio leito repouso que não pergunta horas
e os fantasmas, fiéis companhias, alimentam a alma, e congelam o frio
maquinas de palavras tortinhas

Ponto final sem tempo

o vôo rasante para o abismo, visitou a ave preta
a árvore sem folhas repousava em suas asas
tijolos sobre tijolos
e cascalhos escorrendo eras pelas fendas da terra ...
...o sangue só pára no ponto final do tempo...

Fazenda Paraíso, 21.06.2003

terça-feira, 1 de abril de 2008

Paris, Texas


Cidade Vazia

Cidade Vazia I

Se isso tudo foge de mim
Agora não me preocupo em buscar
Sigo
Já me acostumei a ouvir promessas e acreditar
O meu corpo é só corpo
Mas disso vem todas as implicações
E inexatidões
As punições virão sempre - quase óbvias
Cortando a carne
Mas também é assim que me faço melhor
Mas não vou fazer da falta o meu excesso
Não vou consumir o excesso até a falta
Já não me encarrego mais do que não é meu
Burguesa?
Individualista?
Primata!
Já não tenho medo de assumir
A sua máxima vaidade é isso negar
Eu, sem medo da floresta e só
Sem medo de mim
Sigo
Sei que o destino das coisas foge
Não me assusto mais
(09.10.06)

Cidade Vazia II

Esqueço da chuva e saio por aí assim mesmo, sem guarda-chuva, sem proteção
Esqueço também das minhas vulnerabilidades - não são poucas
E caminho a esmo, c-o-n-f-o-r-t-a-v-e-l-m-e-n-t-e
Com essa palavras, lâminas lambem a carne
Ódio do meu ódio
Amor sem perdão
Sem convite para outros confortos
Árida, mas talvez nem isso
Menos marcante que o meu próprio conceito de mim mesma
Esquecida nos seus olhos confusos
Os meus erros marcados nos seus olhos confusos
(16.10.06)

Cidade Vazia III

A Cidade amanhece calma
Meu coração bate sossegado em um outro ritmo
Posso ir percebendo cada elemento que se encena ainda numa cidade de máscaras leves
Eu também estou mansa, sem nenhuma droga, a falta de sono me sublima
Eu passeio planando "barco ébrio", grito pra mim mesma:
"Esta cidade não vai me devorar".
É um povo pobre, que corre atrás de certidões e documentos
Que ocupa filas e não, postos
E traze crianças choronas calçadas em sapatos apertados e que mijam na rua e comem cachorros quentes salmonelas nas passarelas e se abrigam em marquises e em "sombrinhas" de alguns trocados.
Contrastam alguns poucos homens de negócios, talvez Pachecos ou Palhares, Badarós, os mesmos que me aguardam pra daqui a pouco eu tirar mais um número pra minha identificação.
(19.03.2008)

Cidade Vazia IV

Se eu fosse um asteróide
Lá de cima me veria
Me assustaria, apavoraria com a minha figura?
Andando em ruas estreitas duma cidade ensolarada e caótica
Tentando, tentando encontrar um caminho
E lá de cima, tão facilmente, o asteróide vê os meus caminhos possíveis com a descontração de quem resolve aqueles joguinhos do tipo " ajude o coelhinho chegar até a cenoura",
Ele, o asteróide, riria, se irritaria com tantas burrices cometidas por mim.
Ele "pensaria" alto como uma criança entusiasmada diante do vídeo game: "burra, não tá vendo que aí vacê bate a cara na parede"?
Mas eu não pararia, continuaria com a minha carne borracha a bater,e estender e encolher e entre brechas viver.
O asteróide se espatifaria e entre as brechas do meu caminho/vida e os verbos futuros e pretéritos se depositaria,, como quem entra na história e quer ajudar o personagem lhe prevenindo contra alguma iminente cilada.
A quem caberá julgar o melhor enredo, personagens?

domingo, 30 de março de 2008

Porque continuam inqueitas as palavras que nunca surgirão

Pensei em tudo, não consegui refazer aquelas imagens esquecidas (...): pensei no afeto refletido nas paredes das esquinas, nas pichações corridas de jovens sufocados e furiosos para dizer o que quer que fosse, mas não lembrei ... Era um trocadilho? Como: "o furor rufa os tombores e bater de botas no silêncio do asfalto, apito de guardas e sirenes?"Não sei. Foi rápido que veio e rápido se foi, meu esquecimento é maior e me faz lembrar que é urgente fazer falar. Foi um bafo, bafo do dia que veio diferente e eu tive palavras certas para dizê-lo e no sono confortável da coberta, acobertei versos e me esqueci, me calei, e o que veio foi um silencioso pesadelo na procura do esquecido. Tanta coisa veio, só não o principal. Como foi o principal mesmo? Por que naquela hora eu não corri e não anotei, cravei na pedra do tempo? Vou atrás, vou achar de tudo, mas não vou achar o que perdi ... E não é a primeira vez que isso me ocorre: a tristeza do poeta quando perde a poesia; como um retirante que deixa para trás a feira, a farinha e floresta. O que resta? Mendigo de palavras, afogado na abundância de sílabas partidas entre uma boca e um ouvido, abismo alarmado Mallarmé e vice-versa sem sentido, menino esquálido, repousa seco sobre a mesa da reunião de negócios. E eu? O que faço, se minha principal missão é buscar palavras de imagens esquecidas. ... Rufa, ufa, vixe ... não vou mudar o meu sotaque; se é feio, se é belo, tome aqui, ó, engole a diferença. O meu ataque, reação e ação, ataque de guerra, ataque de nervos. Quem disse que tem razão a razão? São clichês que desconheço. A minha própria razão imagens de palavras esquecidas, urtiga que nem coito interrompido por algum aviso de proibido. Palavras inventadas na hora do aperto da escuridão do esquecimento
escurecimento
esqueceridão
escuridecer
escurecer
A hora não tem hora para aparecer. Fico indecisa se o que há é o infinito ou o eterno. Quais motivos me darão pessoas de daqui a 300 anos? Como me verão? Pensei em tudo, só não nas iimagens de palavras esquecidas. Idas e vindas voltarão. Porque continuam inquietas as palavras que nunca surgirão. 30.05.2003

DESAMPAROS II

Vivia em seu amor
O rumor de que nada mais havia ali
Qualquer informação a mais eram pílulas e pedidos demais seriam perdões
Quando perdeu ninguém sabe o quê,
Cortava a alma a dentro cordas de uma guitarra num quarto escuro
Entorpecia o ar, cinema noir
Um crime contido para cada dia
Fazia calor, quando ela sentia frio
Sentia dor, quando ela fazia amor
rumores, rumores, rumores ...quandoi ela queria sussurrar ...
... e era mesmo preciso esperar ... para ouvir sua infinitas monossilábicas súplicas
E eu fiquei
Eu também não sabia quando parar
12.12.078

DESAMPAROS

Parecia que naquela tarde os nossos desamparos
Andariam para sempre de mãos dadas
Atávicos
Senti um frio na barriga
e os dentes travados
No mormaço de uma tarde deserta do interior
Ela vibrou com o meu desespero diante do seu desespero
Mas logo vi que aquilo era o seu brinquedo eterno
Fugi
E os seus olhos ainda procuram pelos meus
Alucinados?

segunda-feira, 3 de março de 2008

Mais do mesmo

Quando lateja, lateja forte. Todo latejar é forte, o que torna a expressão anterior uma redundância, mas uma redundância necessária. Todos os atos que necessitam de uma repetição são uma redundância. E a drogadição é mais uma. Um cara que conheci por aí tinha o costume de dizer que as pessoas fazem abstinência da droga para usá-la, mas que ele usava para abster-se. Faz sentido. Mas parece somente a alteração dos fatores, o que faz do raciocínio dele um silogismo bobo.

A relação de abstinência não é a melhor resposta a dar à drogadição, pois dessa forma nunca deixa-se de ter uma relação especular com algo que vem devastador. E devastador nesse caso é a vontade, o desejo. O pior problema com as drogas é continuar desejando-as. O problema está na economia do desejo. A droga promete e cumpre: intensidade. Morte e vida em doses imediatas. Respostas imediatas. Distanciamento imediato.

E que o essa ritualística da drogadição tem que o transcorrer "natural" da vida não tem? Ou melhor, o que precisamos abandonar quando nos abandonamos no entorpecimento das drogas?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

DO CHICO, O GURI






ILUSTRAÇÃO: GARDENIA DULTRA



DO CHICO, O GURI



Cheguei na quebradeira, de zueira.



Cheguei de sangue nervoso, calor pavoroso dos trópicos distópicos sem essa de alto astral.



O verso rápido, o ritmo pesado, mas pode ser lento.



Sou aquilo que você sonhou nunca mais ver.



Olhaí, olhaí. Aquilo que você sonhou nunca mais ver.



Os trópicos distópicos, fervura, chapa quente, mais de 40 graus.



O que tá na tua cara, mas só Levi Straus é quem te escancara.



A tua anti-tupy-europa, teu espelho, teu mal.



Vou na suingueira, de zueira, quebradeira.



De requebrado, escrachado.



Sem bandeira, de zueira, o teu reflexo, o teu mal.
Sem bandeira, o teu reflexo, o teu mal.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

carnaval simulacro

Ilustração: Gardenia Dultra

O colar dos "Filhos de Gandhi" inspirando o marketing promocional da skol, amarelo e laranja no pescoço de desbravadores temporários de uma vida apreciada em um barco Nautillus: Verne por Barthes.

A velha mamãe sacode substituída por infláveis fálicos com propaganda do Bradesco, útil ou agradável? Que importa!

As tranças dos negões agora na cabeça de uma classe média que não se pode dizer branca, mas sim, inexpressiva, o que é comprovado nas milhares de repetições dos mesmos refrões, forçadamente ouvidos com surpresa ano após ano - "toda boa, toda boa, tooda booooooooooa".

Agora, são as cinzas. A cidade tá chapada. Começar o ano, definitivamente, apostando em quê? Esta cidade... pequenas hecatombes diárias...

Micro-carnavais simulacros nos rondam a carne.

Um café, um livro, um ansiolítico pra dormir daqui, fugir daqui, tentar pensar longe daqui. E esperar que passe.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sonhos pirateados





Quando meu corpo vai incorporar tantas novas tecnologias?

E falar melhor e agir melhor?

Quando a minha mão irá se libertar de escritas e versos vencidos?

Mas o tempo é uma bomba relógio

Vago em cacos, catando restos de sonhos

Minha pele arde em Antiguidades

E os meus amores fortuitos roubam frutas em esquinas sem concreto

Fico sem registro de memória

Falta registro de memória

Sonho com aperfeiçoamentos que não vêm

Diários que escrevo no esquecimento são a prova disso

Abstinências e álcool fazem baladas e vendem muito bem

No balcão das minhas emoções, afeto é um cartão postal

Que ouço num filme pirateado aos milhões

Fora isso, o que quero está tão fácil

À mão, como qualquer coisa no supermercado

Como mais um filho da Jolie e do Pitt

Como caminhões acidentados na Salvador-Feira

Como mais uma infância vendendo balas

Como mais um adulto cuspindo sonhos junto com chicletes.
01.11.07

01.11.07

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Ao esquecimento,um brinde!

Um brinde aos fakes e seu milhares de perfis e labirintos de identidades virtuais.
Um brinde aos hospitais públicos
E à guarda nacional
Um brinde aos fogos de artifício disparados como trombetas nas lajes dos morros
E em aeroportos clandestinos
Um brinde à BR-101 e aos caminhoneiros e à pressa em tranportar nossos espumantes, queijos do reino e chesteres e porcos defumados
Tim tim ao coral de ceguinhos e crianças órfãs
E à vaidade filantropa assistencialista do clube das velhinhas artesãs
Um brinde ao décimo terceiro e aos capeões de vendas
E a prestações de carros casas comidas corações
Mais uma taça às nossas certezas
E aos tiros disparados pela classe média em nome da paz
E a quem morreu na cruz para nos dá-la
E brinde também aos meninos na rua
E às cadeias superlotadas
Um brinde ao esquecimento e ao zelo e rituais que temos em celebrá-lo