sexta-feira, 15 de abril de 2011

sem o zicartola

disseram que você tava por aí, andando pelo zicartola
sentado de copo cheio e tripa frita no prato
de papo com uma dona
que andara por aquelas bandas em busca de algum trocado
camisa aberta no peito
suor escorrendo na testa
sorriso derretendo no rosto
seu bocado de mágoa

"cabrocha, que é que tu queres, além de todas as cores?
cabrocha, de sete gatos, mil disfarces tens"

amores são sempre mil
nos ventos desses meus morros
sopros de um sorriso arredio

disseram que te viram por aí de óculos rayban na cara
chapéu pendendo pro lado
na manga, algumas cartas
nas mãos, algumas penas

"tira o teu caminho da cartola
que eu quero pássaros fora do ninho
tira o teu cinismo do caminho que eu quero alardear o meu amor"

disseram que te viram por aí de saudade e adeus nos braços
sem o zicartola
sem versos no pé
com sede na alma

"se mandou, acabou o meu amor
acabou, se mandou o meu amor
sem uma palavra
sem verso no pé
sem o zicartola
sem aquela dona
sem o meu amor"

terça-feira, 5 de abril de 2011

dos verbos que escolheu pra si

fantasmas desde sempre corpo lâmina repousa no grande sono da eternidade atualizando antigas dores inconscientes que levam pra longe seus ecos palavras gastas por anos tentando sanar pequenos males com seus grandes estragos você copia a si mesma numa obra de arte de segunda classe nesses dias desbotados - de concreto e aço ossos e ofício homens lata praga de corações derrotados, sem sonhos: cansados acostumados a abandonar filhos soprados por sombras de gigantes culpas olha só o que lhe restou nessas ruas de emoções desertas vias paralelas de olhares míopes embaçam esboços de horizontes onde os fragmentos do seu corpo antecipam a sua presença e a sua queda harpas, hércules retrocessos de verão vertentes de verdades perversas dessas que matam pelo silêncio dessas que separam mãe e filho dessas que eternizam o gosto amargo na boca e se disseminam mais rápido que rede de boataria mais fácil que o ácido insuportável efeito da desonra é assim o veredito dos verbos que escolheu para si