sábado, 17 de julho de 2010

" O cauboy solitário", 1998, do artista japonês Takashi Murakami

Êxtase, arrebatamento e extravagância. Um deleite. A escultura é em tamanha natural, estética mangá de forma inusitada.
a formação pela pedra deforma qualquer um. pedra nas costas. robóticos, sempre querendo satisfazer nossas pequenas necessidades. autómatos, incapazes de comunicação. neuróticos, sempre o nosso ódio latente um pelo outro. babacas, nessa busca pelo amor romântico, ilusório, inatingível. quantas queixas iremos digerir na frente da tevê? quantas pedras ainda?

FILAS

FILA DE BANCO
OLHARES VAZIOS
SÃO COMO BOLSOS SEM DINHEIRO
FORMULÁRIOS
O GOVERNO
O PATRÃO
SEU SALÁRIO
O QUE SERÁ DE VOCÊ?
SEMPRE DEPOSITANDO ESPERANÇAS EM COISAS INCERTAS?

AQUI HÁ UMA ESPERANÇA MORTA
QUE SE ARRASTA EM UM CORTEJO LENTAMENTE
ENQUANTO AQUELES QUE LHE ATENDEM
PROCESSAM SORRISO PLÁSTICO

ESSA FILA É UM FRONT
UMA BATALHA
SEU CORPO SEGUE MORNO ESPERANDO O FINAL
A GLÓRIA OU A DERROTA
VOCÊ OLHA O RELÓGIO
ELE NÃO PARA
CIDADÃO COMUM NÃO É COISA RARA

A FILA É ESCADA, FÓRUM, PROCESSO
SEM FIM
DERROTA OU GLÓRIA?

NA VERDADE, A ALEGRIA

Alegria, alegria de verdade
Pula daqui, pula dali
Venha de lá, pois esse assunto a gente não vai calar
A gente não tem trio eléctrico
Mas a boca é de trombone
Vamo estrondar
Não interessa se eles querem mandar calar a boca, calabar
Somos de Salvador
Mas nosso ritmo é outro
Pula daqui, pula dali
Não queremos essa farsa - corpo, sexo
E tanta coisa que ficou banal
Queremos alegria de verdade, e não só no Carnaval
Alegria no Lobato
Alegria no IAPI
Alegria em Paripe
Alegria em Periperi
Alegria em Itapuã, Malvinas e Cajazeiras

Não somos arroz de festa
Nem macacos de auditório
Nossa boca é de dragão
E preferimos o parlatório
Os nossos olhos veem outro cartão postal
Nossa voz é rasgada, áspera
E pra quem, não gosta de certas palavras duras
Podemos alertar:
A história daqui não é bem essa que você compra no jornal.

SEGUE EM FRENTE


Enquanto a flauta atrai os ratos
O couro come em lombo de nego ladeira abaixo
Olhem pra ele o ano todo
Em Salvador, todo o seu povo
Pula em asfalto quente
Pra se virar, viver ao menos
Mas alguns pensam que isso é alegria
Parece piada, mas não ria
É de mau gosto
Basta olhar em qualquer rosto
Não precisa ir fundo, está na cara
Na boca banguela
Na menina amarela
No barraco
Na favela
E no meio de milhões, eu vejo mais um
Levantar cedo para por a guia
Levantar algum trocado
Talvez se livrar por alguns momentos dessa agonia
Vai vender sua mercadoria
Seja o que for
Óculos escuros
Bronzeador
Cerveja redonda ou quadrada
"Olha a laranja doutor"
E no meio da Avenida
No centro da alheia alegria alegria
Acima da sua cabeça não tem condor
Em cima de sua cabeça um isopor
Ele já zonzo, estourado por gigantes decibéis
Sol escaldante
Ele quase entorpecido, é Carnaval
O suor é frio, não sente dor
Não sente nada
Só ouve um grito alguém blefando
"A Praça Castro Alves é do povo"
Ele não sabe de nada, bom cordeiro selvagem
"É filho de mãe solteira cuja ignorância tem que sustentar"
Ele passa mal, mas segue em frente
Pois é carnaval

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Homeme Labirinto


Entre noticiários e badalações
Um sorriso falso e um adeus sincero
Segue o minotauro pelo labirinto
Metade incoerência metade perfeição
Digladia-se com suas próprias vísceras
Em um dilema quase maniqueísta:
Ser bom ou ser bobo?
Encerrado em seu próprio coração
Já não há mais asas
E nem sempre tem à mão um anestésico eficaz
Um alcalóide, uma paz
Ainda assim queria poder tocar o seu rosto
Mesmo que suado
Queria senti-lo sereno
Mais eis surge pra mim metade homem metade monstro
E eu já não posso mais acompanhá-lo
Pois não sai do seu labirinto.

ESPERANDO UM SIM


O RELÓGIO ESTÁ PROGRAMADO PARA DE MANHÃ - ÀS 6
ENQUANTO, TIC TAC
VOU ESPERANDO UM SIM

QUANDO EU DEITAR EM SEU COLO
EU QUERO QUE VOCÊ ME NINE, NINA
PORQUE TODA NOITE MEU TRAVESSEIRO SE TRANSFORMA EM VOCÊ, VOCÊ
E QUANDO EU LHE CHAMO, CHAMO
VOCÊ NÃO ESTÁ, POR QUÊ?
E QUANDO A SUA VOZ ROUCA ME DARÁ UM SIM, SIM?

QUERO BRINCAR COM PALAVRAS SEM PRETENSÃO DE GANHAR
O TEMPO ESTÁ CONTRA NÓS
HÁ FEBRE
HÁ FRIO
MEU TRAVESSEIRO ARDE
CHAMO

O ÔNIBUS VAI PASSAR CORRENDO
EU NÃO VOU ESTAR LÁ PARA TOMÁ-LO
O RELÓGIO TOCA
O TEMPO ESTÁ CONTRA NÓS
A FEBRE
O FRIO

ESPERANDO UM SIM
VEJO NA PAREDE UM RELÓGIO ESPATIFAR-SE
NÃO QUERO ESPERAR O FIM