sábado, 17 de julho de 2010

SEGUE EM FRENTE


Enquanto a flauta atrai os ratos
O couro come em lombo de nego ladeira abaixo
Olhem pra ele o ano todo
Em Salvador, todo o seu povo
Pula em asfalto quente
Pra se virar, viver ao menos
Mas alguns pensam que isso é alegria
Parece piada, mas não ria
É de mau gosto
Basta olhar em qualquer rosto
Não precisa ir fundo, está na cara
Na boca banguela
Na menina amarela
No barraco
Na favela
E no meio de milhões, eu vejo mais um
Levantar cedo para por a guia
Levantar algum trocado
Talvez se livrar por alguns momentos dessa agonia
Vai vender sua mercadoria
Seja o que for
Óculos escuros
Bronzeador
Cerveja redonda ou quadrada
"Olha a laranja doutor"
E no meio da Avenida
No centro da alheia alegria alegria
Acima da sua cabeça não tem condor
Em cima de sua cabeça um isopor
Ele já zonzo, estourado por gigantes decibéis
Sol escaldante
Ele quase entorpecido, é Carnaval
O suor é frio, não sente dor
Não sente nada
Só ouve um grito alguém blefando
"A Praça Castro Alves é do povo"
Ele não sabe de nada, bom cordeiro selvagem
"É filho de mãe solteira cuja ignorância tem que sustentar"
Ele passa mal, mas segue em frente
Pois é carnaval

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