domingo, 16 de novembro de 2008

NO VIÉS DO ESPELHO

Você vai calçar seu par de tênis vermelho,e me dizer que tudo mudou. Por trás dos seus olhos de estrelas, estão seus óculos.
E em sua visão mais profunda mora uma insistente intolerância.

Calma, não sei se posso lhe amar.Calma, acho a "conquista" um saco. Pra se olhar no espelho não precisa estar acompanhado.

Não vou jogar fora alguns velhos escritos. Na parede da memória algumas lembranças me doem mais;é certo também o quanto paráfrases são necessárias.

Talvez, o melhor agora seja contemplar aquelas listras em blusas nas vitrines. Esperar alguma novidade, alguma moda.
Torcer pra que tudo esteja sempre bem.Quando o orgulho é o próprio umbigo, vale pouco qualquer outra vida.

Dentro do box, no banheiro,vou aplaudir qualquer outra neurose que eu tome como genialidade. Os pingos d´água vão molhar o chão do quarto. Vou sorrir a contento; lembrar o quanto é bom estar só.

Calma, não sei se posso lhe amar.
Calma, acho a "conquista" um saco.
Pra se olhar no espelho não precisa estar acompanhado.

... no viés do espelho escancara-se qualquer farsa ...

gardenia dultra, 1998.

A PERMANÊNCIA NO JOGO

Seu sangue branco escorre pelas narinas. Evidencia certa realidade de potência, mas não lhe dá paz. O genuíno sangue talvez já não exista. A mão pela testa, pelo suor - sua força liberada. Vontade depositada entre o movimento e a inércia. Passa pela sua cabeça que a paz é um porto morto e parado. E que o contrário está em alto mar. Os olhos por mapas nas paredes. Tenta ver a medida entre pontos distintos e não opostos. Talvez um falso equilíbrio distante. Delirante?

Reconsidera suas mãos ao acaso. Retira-se da estrada que lhe é fatal. O caminho induzido é o não-ser. E agora não existe alegrias nem tristezas. Só algumas idades, cálculos, a métrica do passo. A contradança. A PERMANÊNCIA NO JOGO.




gardenia dultra, 2003.

GAME

O MEDO DA PERDA DO OBJETO VIRTUAL.
O MEDO VIRTUAL DA PERDA DO OBJETO.
OBJETO DA PERDA DO MEDO VIRTUAL.
OBJETO VIRTUAL DA PERDA DO MEDO.
PERDA DO MEDO DO OBJETO VIRTUAL.
PERDA VIRTUAL DO OBJETO DO MEDO.

jOGANDO COM AS PEDRAS.
ESCOLHA UMA:
LOTERIA E FOGO,
PERDA E MEDO.

A CABEÇA RI DOS ERROS QUE ELA COMETE.
A CABEÇA BERRA

COM OS ERROS QUE SE REPETEM.
A CABEÇA GIRA COM OS ERROS QUE LHE REMETEM.
A CABEÇA É BERRO DOS ERROS QUE SE COMETEM.
A CABEÇA ERRA COM OS RISOS QUE SE REPETEM.

JOGANDO COM AS PEDRAS.
ESCOLHA UMA:
LOTERIA E
JOGO

RISO E FOGO.


gardenia dultra, 29.07.2003

domingo, 2 de novembro de 2008

METÁFRICA

Mama África que me ensinou
A viver na superfície das veias profundas da dor
Mama África te quero bem
Teu bem, também, menino que chora no peito seco da ama
Mama África não tem volta
Açoitam no lombo de nego brabo
A aids e a pneumonia branca
Quizumba, calango, quilombo

Que dançam de déu em

u

, de dor em dor
Bicho do chão, bicho da flor
Crioulo doido, crioulo bamba
Sapateando
Na fina flor do horror
Se essa dor ainda foi pouca
Se ainda lhe resta a inspiração
Se faz da morte uma criação
Não abusa, não abusa não
Que plantas irão surgir regadas por tantas lágrimas



SSA, 16/10/2001

Um Não Provoca Estranhas Sensações

Vou destruir a minha dor sem me lembrar de você
A volta pra casa é fria
E meus filhos estão por toda parte
O vento sopra sentimentos desencontros e desencantos

Qual o melhor lugar para falar de amor
Para se expor, para apelar?

Vou querer estar só
Quando a ceia for posta
Não comentarei o sabor nem o prato
A dor provoca o silêncio
A solidão é silêncio

O louco dá a cara
O médico dá a mão
O monstro e sua bengala

O que será daqui pra frente
Quando um filho nasce morto
Quando um filho nasce torto?
O seu rosto deve ganhar a escuridão
Como um Quasímodo bem comportado e dócil
A espera da hora exata das migalhas que agora é o seu pão ?

Não terei Notredame para me refugiar...

Quem saberá o meu nome quando eu for livre?
Quem saberá o seu?

Março 2000