quinta-feira, 2 de agosto de 2012


contente ficarei
quando bateres a porta

lá fora
um vento novos encontros
corajosos na entrega e afeição
cuidadosos ao tratar com fantasmas

desconfio
desse torto querer bem
linfa reverso
invade o sangue com cinismo e indiferença

lá fora
um vento novos encontros
aguerridos ao lidar com o fantasma que desagrega
os fantasmas merecem mais que as vísceras do rancor ressentimento traição

lá fora
sigo altiva afastando os mercadores da amizade
os claudicantes viciados no toma lá dá cá
dependentes do doce veneno dos bajuladores

lá fora
fecha a porta quando me vires
respeito teus medos
és tu que não respeita os meus 

" Life is beautiful"  instalação de 2009 do artista iraniano Farhad Moshiri.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

memóide

montagem por invasaodoazul -  imagem do filme "the_hunchback_of_notre_dame (william dieterle, 1939); meme "sweet_jesus_face"
por invasaodoazul*










eu não quero rir nem compartilhar gravuras do breu de intensa luz branca caverna forçando um sorriso diante do medo de arriscar certeza da penúria ante a incapacidade de ser só amorte desertos crescem proliferam placebos verdades tal o eclesiastes autorizados a curtir promessas que nem mesmo fantasiaram não sou o mesmo que a rapariga óculos escuros velho venda no olho rapazinho estrábico cego pistola cão lágrima não sou um meme mármore atenuando o diferente efêmero engenharia duplipensar palavras condensadas fabricam dóceis consensos riso velho surpreso a novas febre-imagens espelho para si pai patrão policia o jogo mimesis monalisa do momento xerox ri melhor no espelhopseudocerteza ri muito demais e mesmo e mais e ainda romancequantidade reprodução superpotência de gárgulas escoadouros de gargantas ávidas replicantes memóides eufóricas estéticas anônimas comuns compartilhadas ganchos desconhecedores do fim







montagem por invasaodoazul - imagem do filme "the_hunchback_of_notre_dame (william dieterle, 1939); meme "sweet_jesus_face"



terça-feira, 26 de junho de 2012

por invasaodoazul
maiakóvski me fez ver a poesia visceral e intensamente. valeu! camarada, brother, irmão!

sexta-feira, 22 de junho de 2012


PRACUNTUM CRECK BUM



A PARANÓIA DISSEMINADA COMO PRAGA NO TELEFONE CELULAR

Todo mundo conectado
e feliz por infeliz estar

 

O CO2 na cara

O ônibus velho na descida da Contorno escarra
Meus olhos explodem lágrimas
Mas olho pro céu só para ocultá-las
E então vejo um prédio barroco no Comércio

     A Cidade Baixa
Baixa o desencanto em Salvador
Enquanto todos os santos estão loooonge, vixe!

Sacudo o corpo
E tento curar o sufoco
E o soco na feira das Sete Portas
Procuro a barraca das sete ervas
Para agüentar os sete dias
E escapar dos sete palmos
E conseguir as sete vidas
E ENCARAR O ardil QUE escapa pelo ladrão
Disfarçado no molejo pagão
Entra nas narinas como cânfora
Ou como urina nas esquinas do carnaval
Lança a âncora
Prende o laço
E divide a população entre os espertos e os palhaços
Premiando quem está disposto a ganhar com o bagaço
Com o engano, a chantagem e a traição 

Tiros para o alto

Mãos ao alto  
Eu me rendo ao assalto
Arrastam minha cara no asfalto
E logo logo sou forçada a confessar tudo
Torturados, mas somos tão alegres
Desdentados, mas somos tão alegres
Desempregados, mas somos tão alegres
Massacrados, mas somos tão alegres
Infantilizados, mas somos tão alegres
Folclorizados, mas somos tão alegres
Assassinados, mas somos tão alegres
A Bahia é linda
É tudo tão etéreo
Ou não
Agora os tambores
Abafam os tiros
Nas costas do menino

gardênia dultra

terça-feira, 19 de junho de 2012

Presentificando um futuro no deserto, uma cor fala por multicores amparados no calor dos que se aquecem no romance alheio. Mantras, ecos, preces fazem uníssono pois planeiam sobre desesperos um lugarzinho pra si, agora bem mais eficientes em seus refrões. Adiando no corpo a dor, prometem pra si um paraíso vindouro. Majestade: não haverá miséria alguma, acreditam todos, e nem mesmo as crianças veem o rei nu. Florestas crescerão com palhaços em seus arcos dourados e todos compraremos bem barato da china as tais crenças no conforto - tudo irá se ajeitar! Já disseminamos pelas redes, todos curtiram, todos seguiram. Aqui só há lugar para otimistas, vejam os outros, com tão poucos amigos, tão antigos. Já garantimos nas baías um diálogo bonito, e por detrás de um fuzil há um homem com intenção de paz. Há evolução, há desenvolvimento, nós definimos o tema e, então, no diálogo todo mundo se entende. Vamos vencer! A todo abarcaremos, queremos, poderemos, sempre aquecidos pelos olhos crédulos que se aquecem com o romance alheio. Acabaremos com as doenças, e, quem sabe, com o corpo. Um futuro, um futuro.  


        

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fechando os olhos ao som de fuzis


A política de drogas brasileira segue proibicionista. Isso significa que mantém as bases repressivas, moralistas e seletivas contra determinados segmentos da sociedade (o que denota o corte racista e higienista que marca o proibicionismo

Thiago Rodrigues - professor adjunto no Departamento de Estudos Estratégicos e Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense

Quando escopetas, pistolas automáticas e cassetetes estão violenta e decididamente voltados para sua cara, ainda que você saiba todos os instrumentos legais que lhe protegem, o silêncio vem como resultado do medo, da impotência e de uma revolta confusa.
Casa de periferia, ali se ajeitam em dois ou três cômodos, que servem simultaneamente como quarto, sala, cozinha e banheiro, um grupo de jovens - pedreiros, empregadas domésticas, desempregados ou profissionais de serviços precários, insalubres, inseguros, mal pagos. Os blocos estão à mostra, sem reboco, portas e janelas existem por uma questão quase que simbólica, pois não oferecem algum tipo de privacidade ou segurança. O ambiente é calorento e uma ansiedade paira no ar potencializando um desconforto constante.
É uma tarde de um dia útil qualquer. Pouco importa, o cenário se repete. Pelas redondezas mercadinhos, igrejas de várias congregações, lojas de material de construção, botecos, mototaxistas, crianças correndo, homens embriagados, mães, e os cuidadores da vida alheia. Nenhuma praça. Nenhum lazer gratuito e de qualidade à vista. Atividades artísticas e culturais?! O que é isso? No ar ouve-se uma música que vários acompanham efusivamente: "(...) quem nunca namorou, quem nunca fez amor, no carro, no carro, tomou umas e outras e deu uma fugidinha, no carro, no carro (...) carro parado com vidro embaçado, cuidado, cuidado, é motel disfarçado". Ainda que carro, motel, e "fugidinha" sejam significantes com significados difusos para a maioria.
Em um sofá rasgado e sujo na "sala", um grupo compartilha o mal estar da fissura, da abstinência - os cinco ou 10 contos que aparecem com muito custo, desaparecem rapidinho com uma droga "miada e fraca" (sic), mas que continuam desejando por ser a única disponível na área. Reclamam que nem mesmo tem um goró (cachaça) ou uma pacaia (fumo artesanal) para "destilar". Conversando um pouco mais, descobrem-se as mágoas profundas de cada um ali. De repente, chegam um ou outro, com os tais cinco ou 10 contos que conquistaram em alguma diária, biscate ou reciclagem, e vão ali por não terem um espaço melhor para usarem a droga. Inevitável, o entra e sai são constantes. A vizinhança está ligada. A vizinhança vigia, controla, delata, pune. 
Na cabeça de muitos, aquele contexto não se trata de um grupo tentando algum escapismo frente a uma situação agressiva, para o senso comum são sub-cidadãos que justificam aprioristicamente qualquer ato que infrinja até mesmo as garantias constitucionais elementares da sociedade burguesa.
Não há armas, nem grande quantidade de droga. Mas por desinformação, questões de fundo psíquico ou incapacidade de diálogo, qualquer motivo fútil dá origem a bate-bocas e até mesmo a agressões físicas. Na própria condição que trazem de incomunicabilidade, divergências sempre resvalam de pronto para uma agressão verbal expressa por um vocabulário escasso e repetitivo. A gritaria, então, extrapola a porta e a janela franzinas. A vizinhança está a cada momento mais atenta como quem espera pelo grande desfecho de um filme de terror. A vizinhança já conhece bem o perfil desses personagens - eles alimentam o café da manhã, o almoço e o jantar de noticiosos em rádios, TVs e jornais impressos - garantem uma audiência sedenta pelo linchamento moral público dos que de uma forma ou de outra ficam de fora do espólio de séculos da pilhagem na terra brasilis.
Demorou! Após desferir um chute na porta, entra no cubículo o comandante da operação de arma em punho como quem está a atuar ao lado de Arnold Schwarzenegger. Com ele, um séquito de cerca de três homens fortemente armados. Um rapaz de seus 28 anos, ajudante de pedreiro e de origem camponesa, é o mais visível no dispositivo cênico do tal sofá, é, coincidentemente (?), o mais franzino e de pele mais intensamente negra. Após ouvir o berro "cadê a droga, cadê as armas?", leva no peitoral vários sopapos de um soldado aparentando medir 2 metros e físico de lutador de jiu-jítsu, que fez questão de deixar bem claro que não estava ali para ouvir respostas ou explicações. A cada tentativa de identificar-se, de demonstrar laços familiares ou outros laços sociais, o policial irritava-se mais e mais, os socos no peitoral do rapaz usuário de droga tornavam-se mais e mais agressivos. As falas tentando colocar-se como portador de alguma identidade e pertencimento social provocavam na tropa rompantes tais como: "você não é nada", "você é um verme", "não cite o nome da sua mãe", "vagabundo", "cala a boca" e lá iam mais sopapos. 
Ato contínuo, o comandante adentra o que seria o quarto do casal - na verdade um espaço que apenas identificava de forma ainda mais intensa a vida caótica e desestruturada dos moradores, pois era uma mistura de depósito de roupas sujas, de revistas velhas, garrafas plásticas vazias, restos de comida, bitucas de cigarro, cachimbos apropriados ao uso do crack, e outras coisas que sob um estado de espírito acuado pela arbitrariedade policial não se é capaz de perceber. O comandante atuava como se estivesse numa grande operação à captura de algum capo di tutti i capi, de algum Matteo Messina Denaro da máfia siciliana, um grande chefão, um super narcotraficante. O que havia realmente eram resquícios de consumo droga - sobras da substância e cachimbos - nada que se configurasse como tráfico de drogas, e um grupo de jovens periféricos acuados.   
O universo que cerca o usuário de crack estrutura-se quase que completamente nas sobras, nos restos, no que ficou de fora e retorna a algum tipo de cadeia produtiva de forma perversa e violenta. O próprio significante que nomeia a substância é uma onomatopeia referente à ruptura, quebra, crack - alusão ao som produzido quando a droga é queimada – curiosamente também usado para referir-se a momentos agudos de crise econômica. Grande metáfora para um cenário de desagregação social. A origem da droga advem da forma impura da cocaína. Os utensílios que precariamente funcionam como cachimbo são, não raro, retirados de depósitos de lixo - latas de alumínio de cerveja ou refrigerante, copos plásticos de água mineral, válvulas de aparelhos eletrônicos, lâmpadas, canetas, garrafas plásticas, ou quaisquer outros objetos encontrados pelas ruas que possam adaptar-se à forma de cachimbo, muitas vezes compostos por substâncias extremamente nocivas à saúde - como o alumínio ou até mesmo metais pesados encontrados nas válvulas retiradas de aparelhos eletrônicos. O veículo para a combustão utilizado nos cachimbos da pedra é a cinza do cigarro. Restos, restos... 
Por conta de suas características socioeconômicas e culturais, por tratar-se, em tese, de uma droga barata, relegada na grande maioria dos casos ao lumpemproletariado, o crack não traz a ritualística e glamour que cercam outras drogas largamente incorporadas e consumidas pelas classes média e alta. Quem desconhece o largo consumo de maconha nas universidades mundo a fora? Quem desconhece as festinhas do jet set regadas a cocaína? Quantas dessas pessoas do high society já tiveram as casas invadidas sem mandado de busca e apreensão? Quantas já sofreram calúnia, injúria e difamação em programas jornalísticos comandados por "profissionais" que ignoram os princípios éticos elementares do ofício? Que tratam a ética, o respeito à dignidade humana, o princípio da presunção de inocência com um tom típico dos que se locupletam com a barbárie e com a miséria, arraigados que estão ao que há de mais cruel na história desse país de capitães do mato e navios negreiros?
O usuário de crack é o mais penalizado nesse cenário de patologia social que envolve um setor estruturado, globalizado e com altas ramificações financeiras que sequer temos conhecimento devido à economia de mercado extremamente volátil,  impossível de ser regulamentada pelo estado.  A ONU estima - pois não há como definir índices precisos - que o negócio da droga movimenta mais de 500 bilhões de dólares ao ano, faturamento superior ao comércio internacional de petróleo, perdendo apenas para o tráfico de armas (Link para Relatório Mundial sobre Drogas 2011, produzido pela ONU).
Ainda assim, em muitas cidades do Brasil, o estado continua terceirizando sua "política" para setores que tratam o assunto de forma absurdamente apartada das chamadas políticas de inclusão, delegando para instâncias que pregam a execução sumária desses jovens - pobres e quase sempre pretos. Principalmente nas pequenas cidades do Nordeste, onde vemos segmentos da segurança pública desconhecer estratégias que vem mostrando-se mais efetivas que a tal "guerra às drogas" - a exemplo dos programas de redução de danos, a diferenciação clara entre usuários e traficantes, medidas socioeducativas, acolhimento em grupos orientados por equipes multidisciplinares formadas por psicólogos, psiquiatras, antropólogos, sociólogos e demais esferas de saúde e humanas.
Até quando as cercas eletrificadas postas nos muros das residências da classe média garantirão o conforto para que possamos dormir tranquilos professando uma retórica cristã ou social democrata que tanto se refere à cidadania? Até quando porteiros eletrônicos, grades, carros com seus vidros cuidadosamente fechados, empresas de segurança patrimonial garantirão uma falsa sensação de segurança?
Zonas segregadas, verdadeiros guetos, espalham-se por esse país a fora, locais onde a arbitrariedade policial deixa bem claro que ali as leis são outras, onde o estado e a sociedade destilam tranquilamente seu descaso e abandono à vida de milhares de jovens que já nascem com o destino selado de serem linchados e queimados vivos sem direito a julgamento, sob aplausos da população ignorante que vibra ao ver sangue, sob os holofotes do justiçamento da mídia. Tudo com a tolerância da sociedade culturalmente acostumada a prescrever os dignos e os indignos - que o digam os índios, os negros, os gays, os pobres, os nordestinos, os favelados, os loucos, os leprosos, os rebeldes... Os "nóia", "sacizeiros" e outras denominações que levam o usuário de crack são apenas mais uma categoria na nossa imensa lista de uma perversa dívida social que intensifica o medo, a insegurança, a violência. 

quinta-feira, 22 de março de 2012

não seria demais eu esperar de todas as noites sangrentas algum deleite que alcançasse meu corpo sem cobrar de mim os excessos que cometi. flores não abrigos disfarçados de glórias, são expectativas vãs de viver em antigos confortos, são ilusões de paisagens vis. pra cantar em um baile que ainda sonho estar - sem oprimir, sem ser oprimida - por que tenho que fugir sempre? seria demais eu tocar os dias com a intensidade que meu corpo precisa? Ah, justificativas vãs, pedem sempre punições cruéis - e o mundo dá! como a obviedade da matemática racionalista, seus princípios, meios e fins. ah, ação e reação e a sua linguagem jurídica. a imputação, o vermelho, o negro, como a máquina contábil que a cidade nos detém, nos condena a pagar infindáveis impostos. qual o rosto surgirá em nós plantado pelos dias, pelas horas, pelos projetos adiados? Por que negar que ainda está lá aquela criança que sorri amarelo quando tens que flertar os tais sapos do jantar? Quisera meu medos fossem irreais, quimeras a ser sanadas com algum fármaco, um cloridrato qualquer.

sábado, 17 de março de 2012

quanto custa a nossa atenção? o valor dos nossos olhos pode ter o preço da nossa perdição, o desvalor dos nossos olhos pode supervalorizar a nossa opressão. Quais sinais estarão agora postos como setas de possíveis caminhos? O flaneur foi subornado por antigas contas do padrão, pelo desejo do patrão de domesticar potros, perdeu a manha de não despertar a fúria da vigilância e punição. Ele agora é vigiado a ser banido tal um componente indesejado do que caiu no chão. Esta metrópole do Nordeste não convida a nela banhar-se com os olhos desejantes de novas paisagens. O velho vai cristalizando rotas de fuga da visão, impelindo a cabisbaixar e a curvar-nos sobre o excesso de tudo o que é considerado lixo. A curvatura proíbe o olhar, a curvatura vitimiza,a ver os usuários do crack estrutural das cidades maniacamente catando, buscando pelo chão promessas e perspectivas de aplacar a fissura. Buscar não como meio de estruturar caminhos, buscar como mineradores cavando galerias subterrâneas a procura do que escolheram como pedra preciosa. A pedra de eleição. Quando digo "excesso de tudo que é considerado lixo" comento sim uma redundância - o lixo é o que excedeu, o que não serviu ao processo, à produção.

A doença provocada pelo crack estrutural da cidade é, dentre tantas outras, a própria epidemia do crack. A epidemia do crack é uma doença do olhar, de como olhamos a cidade, o coletivo. A doença do crack é um sintoma da negação do olhar, digo o olhar como experiência e diálogo com o que nos é diferente, externo e excêntrico.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

rasgava a cidade ao meio
sustentando com as costas seus restos
embalados em sacos pretos
bicicletas rosinhas
logo estariam junto a amontoados de preces
e feijão moeda de troco e nada mais
não tinha o que declarar
uma palavra desdita
é como declaração de morte imediata
os pés rachados da mistura que ficou do seu caminho
calor, lama e cacos de vidros repisados
causava estranheza por não acreditar na palavra amor
e como é que poderia acreditar
em dias que só prometiam mais restos de sacos, latas e plásticos
sua vida a vender garrafa pet
ele sabe do luxo por cachorro pet
comercializando felicidade por cinco reais
e crack, e cidade rachadura
e cidade baixa
e cidade alta
altas horas, segue ele seguindo sacos pretos
seguido de cachorros e uivos
a cidade chove e ele a desafia
a seguir morrendo por mais um dia

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

fez castelos, desfez pesadelos e adiou muitos sonhos

ao lado de chumaços de cabelos, lama, restos de palhas de piaçavas de vassouras velhas, bitucas de cigarro devorados por adultos ávidos. passou uma boa parte da sua infância aí. imaginava tendas de circos e rodas gigantes domingo à tarde. sabia que pouco tinham preparado para a sua insurreição à terra. a pele esverdeada e um olhar de criança autista, tinha vindo do fundo, do lado do que se evita ver. aos gritos da manhãs aflitas alentava pedindo um pouquinho mais da segurança transitória das cobertas sob telhados de amianto muriçocas famintas e histéricas e ventiladores empoeirados. ah, aprendeu a não desejar, a negar a presença do corpo que pouco sentia, apenas adiava, adiava, para outros dezembros. imaginava que tudo era tão fabricado quanto leite longa vida e vacas de presépio, ali naquele beco fez castelos, desfez pesadelos e adiou muitos sonhos. transitou a vida como uma boca que baba entre a repulsa e o mini desejo de açúcares e carboidratos.

domingo, 16 de outubro de 2011

projeto minoru yamasaki: 107 dentes acima da sua cabeça

... na sua b.o.c.a, o gosto das cinzas, da acetona, do ar que lhe faltou. comprimido que estava ao passar em r.u.a.s com seu turismo errante t.a.l como um encantador de naja, como uma nadja de andré breton, o acaso objetivo, o ocaso subjetivo de suas artérias multívagas e vozes saindo por equalizadores distorcidos, como pães que foram acariciados por diabos incapazes de ouvir uma dor sem dar uma risada de escárnio. (atenção, todos os carros, a.t.e.n.ç.ã.o, todos os carros) a sua cara cuspida encarnada em mármores de carrara qual o édipo torto que fica no jardim que vai para proferir suas palavras tortas, seus desejos obscuros e as coisas que não sabe e sabe também e esses botões que aperta tentando grafar ao menos alguma coisa precisa e aliviar sensações estranhas com objetos intransitivos. (peguem as câmeras fotográficas, peguem suas digitais). mas vieram as cinzas na boca no ar e milhares de papeis voando desde o último andar do projeto minoru yamasaki 107 dentes acima da sua cabeça, cheiro de carne queimada também dá a entender que depois da rosa de hiroshima estaria junto com as crianças no zoológico de quimeras deformadas em formol de fetos e não possuíam membros externos mas que os primeiros a se formar seriam botões de olhos assustados para atestar a sua condição de fugitivo das águas termais amnióticas. (close, close na próxima tragédia) as fogueiras hippies foram todas queimadas, assim decidiu floresta adentrar para reabastecer a lenha do fogo do princípio das suas invenções e quando viu era uma nuvem de répteis pré-históricos agarrados a seu pescoço e seu irmão lhe confidenciando pesadelos de arames farpados e genitálias castradas e que as crianças agora desmanchavam o sorriso em semblantes refletidos em doces dores de estimação. no horizonte algodões doces gelatinosos cristalizados em expressões que lhe doíam a garganta, e sua perplexidade diante da confusão que causava ao explicitar aflições quando nas mesas brasileiras só esperavam além do pão um pouquinho mais de piada ...

sábado, 15 de outubro de 2011

de costas pro ar

não pensava sobre o assunto, mas sabia que ele iria bater à porta sempre, como um portal que nunca se fecha, sempre oferecendo possibilidades de propostas de cura para a solidão. voltava á rua, seus perigos, seu fedor de mijo esquina gente esquálida, quanta droga ainda teria que tomar para aliviar e aguentar. seu dinheiro tomado por crack do seu suor tomado por dores. e a cidade lhe invadia a pele como o calor de um dia quente inevitável. todos os olhos eram olhos vigilantes sem nunca terem sido observados. suas meninas e promessas duravam apenas até o amanhecer. com o sol acaba o brilho e o disfarce. acabam-se as promessas. e ele sempre insistia em acreditar que sempre estava enganado ao se enganar. perdia a certeza que todos os seus enganos viam por escolha própria. ali, onde seu coração estava era um lugar inóspito. hospitais honoris causa pululando seus desejos fetos. suas ardências pimentas cerebrais, seu cérebro estava sempre à espreita de gretas, de fumaças, de caquinhos no chão, seu cérebro espreita inimigos invasores imediatos ameaças constantes desequilíbrios estáveis palavras impalpáveis dores cimento e alcaloides sempre insuficientes, sempre à falta. seus monstros não deixavam seus anjos descansar, seus monstros sempre despertos como o próprio ar. e foi para o último prédio do último andar e largou-se de costas para não ver a inevitável decisão do seu último andar desandar. na boca ainda sentia o gosto de cinzas do éter do ar que lhe faltou ...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

a sabedoria está lá fora, saia

coração e mente de gente são terras em que não se deve pisar, me disse hoje uma trabalhadora dando sua diária em minha casa. ela parece não mais se espantar com comportamentos escorregadios de quem a gente menos espera, aliás ela não espera. acorda às quatro da matina em castelo branco, bairro periférico de salvador. leva duas horas e meia no buzão. arruma tudo, passa e ainda faz o almoço. sempre calma e com um bom conselho pra me dar. tem sido uma grande companheira das quintas feiras, acho que ela nem se dá conta da importância que tem tido em minha vida. magrinha, mirrada, cearense. outro dia me saiu com a tirada "tem gente que vegeta na ignorância"; eu não pude deixar de rir um senso tão preciso da brutalidade humana. e pensei: "há pessoas que levam anos para descobrir que a ignorância é um estado vegetativo". rá, rá. Ainda nas suas palavras precisas me disse perplexa: "tem um canal de tevê lá casa que só passa as tragédias do rio e são paulo". rá, rá, mais crítica que isso... e nem precisou ler a escola de frankfurt. a cada dia me interesso mais pelo que está fora dos cânones da escola, a sabedoria está lá fora, saia.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

a tornar som o ruído da cidade

meu tambor descompassado manda sinais
avisos com muita antecedência que ele muitas vezes se trai
em gangorras e outros temporais
visgo de dor é pé na jaca
poesia de amor é lâmina da faca
corte preciso sem cálculo
apenas resultados de notas claras
a tornar som o ruído da cidade

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

meninogatoamendoim

meio dia!
os olhos brilharam,
- amendoim!, o menino gritou!
pequenas porções de vida doce
embalar sonhos com 1,00 R$ de planos
no futuro, satisfação agora
sua casa, minha sina
meus cartórios em quadratura com suas oito horas e cartões de ponto
beijo em seus pequenos intervalos
acarajé ao fim da tarde
junto com vento leve e primazia de outras promessas reconhecidas a um passo do sim
sem recomeço: a estrada não tem porteira nem fim
cante de novo - algodão doce, pipoca, roda gigante
euforias ao estilo de cores de bandeirolas, são joão, verduras e legumes na feira
o cheiro da infância na fruta doce de verão
acenar com possibilidades
destronar mazelas
frutificar a sorte pronta para quedas, poeiras, olhos, cinzas
meio dia e saber que ainda nos restam velocidades inteiras
das belezas dos nossos restos de dia sem dono
a formatação da dor tem cara nova para propostas velhas
mas sairemos ilesos se soubermos disso ao hastear nossa bandeira de outros escapes
sete vidas e o pulo do menino gato
amendoim, amendoim!

domingo, 14 de agosto de 2011

pulsando numa fotografia

vi ali algo mais ou menos como dizer não
você já teria voado
e meus passos foram incapazes de chegar aos seus
sua voz seus dentes
meu indiferente riso
meu olhar já capturado pela fábrica indigente
e o descompasso quando tento acertar
o ritmo compassado dos meus erros e o eco que eles fazem
prometendo imagens exatas do que já nem sou
e se eu nem me importar?
e se já não falo o que querem?
onde estará melhor os meus reflexos?
se o presente é um tempo que evitamos tanto
se o futuro é todo o nosso projeto de vida
o dia diluído em dilúvios
faço a sonoplastia com trovões extraídos de raio x
e você estará lá, e você estará lá, pulsando numa fotografia

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

MINHAS DORES DE TWITTER

Meu corpo encobre os fios dos faróis dos carros velozes
Já sinto no asfalto o suor da minha pele fria
Mas não sinto nada
Além de uma confusa sensação de saturação e vazio
Minhas digitais tocam o sino de um relógio antigo na estação de trem
Recorro aos velhos coretos para cantar minhas dores de twitter
Meu rosto sem perfil transita em uma imensidão de inexistentes redes sociais

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um blues antigo para Amy Winehouse

Ao por do sol
Homens de preto
Cantarão à sombra do seu corpo
Um blues antigo
Rasgando com a voz a tarde que vai longe
As lágrimas já secas
Trarão ao rosto de cada um
Uma calma opiácea
Quem sabe um dia encontraremos o caminho para casa
Quem sabe um dia nossos pulmões e ossos não estarão doentes?
A tarde de um sábado será tão serena
Deixemos a dor ao piano, ele sabe o que fazer com ela
Deixemos dançar ao piano, a dor que baila tão bela
A deixemos só
Você encontrará o caminho de casa com as lágrimas já secas no rosto
Você ainda precisa sussurrar
Essa sua voz toma a sala deixando tudo à meia luz
Encobrindo feridas na face
Encobrindo feridas

quarta-feira, 15 de junho de 2011

sintoma

vai voltar a fazer besteira
arranhando na parede a cara boba
busca a faca e qualquer outra coisa da instabilidade
acende velas nos altares dos gritos sob a neblina
mastiga o asfalto que derrete a pressa dos arbustos seculares
refuga a fumaça que sempre vem independente do desejo
acolhe com carinho seu algoz
e sabe que ninguém entenderá
e sabe que ninguém
e sabe que
e
que
sabe?

o pão do fundo do pacote

tímido, como um pão amassado no fundo do pacote
trôpego, escondendo uma ferida que ardia e não era pouco
trazia o olhar enviesado da infância atormentada
fazia da frivolidade sua máxima ironia ao mundo
sabia que não tinha muita importância
e já tinha até se acostumado o isso
seguia fazendo grandes maldades sem importância

domingo, 5 de junho de 2011

muitas vezes ainda maniqueísta

Essa histeria tecnológica me incomoda. Sim, já não temos mais silêncio, desejosos ávidos pelas novidades do vale do silício. Continuo comprando informação, sempre, muita, ato contínuo, e cada mais e mais em minhas reflexões solitárias. Ah, dizem por aí que só vejo o lado negativo da vida! Mais quá! Como se os lados fossem coisas apartadas de si mesmas - se são lados, sempre são vários. E, sempre, alguns, é claro, me veem assim, de um lado só, na minha imagem analógica do negativo e do positivo. Ah, vida breve! E essa exigência da complacência e da disposição para o engodo e o riso do sorriso do gato de Alice. Escondo no ardor do meu estômago as minhas falsas lágrimas. Escondo sempre, e dos lados, sempre destacam um para me classificarem de alguma coisa, pois a única coisa que exijo é não ser apenas um papel, uma função, uma tipificação do sujeito contemporâneo produtivo, bem informado, extremamente conectado, mas enfim, muitas vezes ainda maniqueísta.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

enquando crompam o ipad2
fico a dois passos de mim
recito ofensas
repito crenças
em templos de deuses máquinas
em tempo de corpo sem órgãos
novos nexos
negação do agora
exaltação do novo
exumação do corpo
a dois passos de mim

quarta-feira, 25 de maio de 2011

aos imbecis e o medo do humano demasiadamente humano

cai chuva sobre a cidade sol. meu corpo já escorreu pelo asfalto. sobrevivo aos que só admitem prantos em novelão mexicano. não consigo esconder tragédias. você e suas comédias. você e sua prosódia. não acompanha descompassos desrazões. suas tolas canções rimadas. suas velhas motivações quadradas. suas emoções baratas, suas liquidações

sexta-feira, 13 de maio de 2011

gigante enfant terrible

de mim?
o meu súor?
o meu fígado?
o meu súor?
o meu discernimento?
o que criar para além da minha alienação?
além dessa bolha-tempo?
blindagem de emoções
onde campos de sobrevivência eclipsam novos prazeres
um agir máquina que transforma meu tum tum tum de peito
em tic tic tic nervoso
paralisia
afasia
hipertrofia
palavra sim
palavra não
amoeodeioaminhaqueda
meu gigante enfant terrible
alimento disparates
dos meu fins
incorporações desse descorpo
escaleta sem contorno
do espaço vil entre você e o mundo
entre você e o mundo
há um entre que não é seu nem do mundo
e disso?
um salto
um passo
(ah, queda boa de se dar quando as escolhas são tecidas no desconhecido... mas todas as escolhas são tecidas do desconhecido)
o tempo faz seu trabalho não parar
moeda de troca
fígado
moeda e toda sorte de exaustão
mas você reinventa glórias e cartões de ponto
transforma em arco-íris seu código de barra
e continua acreditando
eis sua glória e seu fracasso

sexta-feira, 15 de abril de 2011

sem o zicartola

disseram que você tava por aí, andando pelo zicartola
sentado de copo cheio e tripa frita no prato
de papo com uma dona
que andara por aquelas bandas em busca de algum trocado
camisa aberta no peito
suor escorrendo na testa
sorriso derretendo no rosto
seu bocado de mágoa

"cabrocha, que é que tu queres, além de todas as cores?
cabrocha, de sete gatos, mil disfarces tens"

amores são sempre mil
nos ventos desses meus morros
sopros de um sorriso arredio

disseram que te viram por aí de óculos rayban na cara
chapéu pendendo pro lado
na manga, algumas cartas
nas mãos, algumas penas

"tira o teu caminho da cartola
que eu quero pássaros fora do ninho
tira o teu cinismo do caminho que eu quero alardear o meu amor"

disseram que te viram por aí de saudade e adeus nos braços
sem o zicartola
sem versos no pé
com sede na alma

"se mandou, acabou o meu amor
acabou, se mandou o meu amor
sem uma palavra
sem verso no pé
sem o zicartola
sem aquela dona
sem o meu amor"

terça-feira, 5 de abril de 2011

dos verbos que escolheu pra si

fantasmas desde sempre corpo lâmina repousa no grande sono da eternidade atualizando antigas dores inconscientes que levam pra longe seus ecos palavras gastas por anos tentando sanar pequenos males com seus grandes estragos você copia a si mesma numa obra de arte de segunda classe nesses dias desbotados - de concreto e aço ossos e ofício homens lata praga de corações derrotados, sem sonhos: cansados acostumados a abandonar filhos soprados por sombras de gigantes culpas olha só o que lhe restou nessas ruas de emoções desertas vias paralelas de olhares míopes embaçam esboços de horizontes onde os fragmentos do seu corpo antecipam a sua presença e a sua queda harpas, hércules retrocessos de verão vertentes de verdades perversas dessas que matam pelo silêncio dessas que separam mãe e filho dessas que eternizam o gosto amargo na boca e se disseminam mais rápido que rede de boataria mais fácil que o ácido insuportável efeito da desonra é assim o veredito dos verbos que escolheu para si

quarta-feira, 16 de março de 2011

POLISSEMIA DAS PALAVRAS

No ponto de ônibus. Olhar aflito, seu ônibus demora. Rói as unhas. Aperta os dedos. Olha à sua volta. Olha os transeuntes. Em redenção ela grita: Águas Claras. Desejosa de novos climas, clamando por novos ares. Não, não era nada disso e no entanto era tudo isso - era o ônibus de sua quebrada que chegara. E assim vamos vivendo os nossos dias com essas pequenas glórias.

quarta-feira, 9 de março de 2011

já lavei minha alma. não há o que transportar nesse vazio de emoções velhas. não há do que reclamar. encare, a quaresma começou, suas desculpas acabaram, e na cruz disseram que suas punições teriam louvores a mil anos luz.

terça-feira, 8 de março de 2011

CARNAVAL?

FOTO: GardeniaDultra


NÃO SE ESQUEÇA DE MIM

o trio toca. crooners anunciam um arrepio avassalador. a chuva cai. a chuva passa. não importa. onde estão meus filhos? barriga cheia ou barriga vazia? e este povo me fotografando? e este povo pulando? onde estarei agora? onde estarei amanhã? amanhã? agora? ouço gritos ecoando no asfalto quente e molhado. ouço o silêncio das minhas alegrias. ouço o estrondo das minhas incertezas - carnaval.


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

a amplidão do som na escuridão noturna
tantos mundos, e você aí, esperando aparar corações
na verticalidade da minha vertigem me precipito em imagem
radicalizo emoções
binóculo do teu espelho na lentidão da minha maneira de criar a ti - soy loco por
maravilhas, café e pão ao meu jeito de possibilitar dimensões
em tempo de chegar e partir
como a primavera e o verão
como o amanhecer e as asas da coruja
como as limitações do agora
e as promessas de futuro

serei breve
a ponto de sacrificar paladares
a ponto de me deixar sumir
a ponto de
o dedo em riste com seus imperativos
sempre querendo interferir em mapas colados em papéis : PAREDE
não tentarei enfins
cansada de tantos bastas ao pensamento
os meus rios querem marear
cantos, cantos, o meu laralará
o meu lá
lar onde cultivo impossibilidades
corpos
extensões
cronos
desejos de vir - a defesa da alma às máquinas de morte
corte de prazer
laboratório de alquimias perversas
estátuas
gesso de eras por tiranos
teus sonhos precisam viver

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

que preocupação

dois homens sentados na estação de transbordo, compenetrados, tensos e preocupados: falavam de um terceiro que, segundo eles, merecidamente tinha levado a pior. mal caráter, fofoqueiro, o destino dele deveria ser a sarjeta. intrigada e curiosa me liguei na conversa, pensei: "puxa, como eles estão preocupados, como aparentam que alguma situação grave aconteceu". a conversa foi e o esperado foi revelado - o assunto era sobre o último eliminado do big brother brasil.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

andar às margens dos teus rios, salvador

andar às margens dos teus rios, salvador. sentindo o agressivo odor das tuas águas mortas. plásticos devoram peixes, enquanto meninos pirateiam sexo, mentiras, e outras histórias mal contados no intervalo entre tuas passarelas que separam um lugar do outro. o grito de propaganda desce pela guela abaixo daqueles que anunciam pregões dos produtos da china. a tua globalização chegou assim, no teu arrocha àqueles que tiveram que aprender a manipular a tecnologia na tora; na tua negação àqueles que aprenderam a produzir com a reprodução, a cópia da tua esmola escolar, do desprezo elegante dos teus intelectuais aos que estão fora dos curriculos lattes. andar às margens dos teus rios, salvador, é sufocar no teu calor e ter uma sede insaciável. é ver nos viadutos clarões que estalam no crack da tua mitologia - seja católica ou pagã. andar às margens do teu rio, salvador, é navegar pelas tuas mentiras que insistem em esconder as tuas dores.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

satisfação?

O turbilhão de fatos que atropelam a gente. Vivemos a ditadura dos fatos. Possibilidades de reinvenção do cotidiano, de criação de outras formas de ver o mundo são terrivelmente reprimidas. Pierri Bourdieu discorre sobre isso em o "Poder Simbólico", uma elite tem a possibilidade de criar e fazer valer formas de significação para o mundo. Não que não tenhamos a nossa própria subjetividade, mas desde Aristóteles sabia-se que o ser humano tende sempre a mimesis, à cópia. Com a Sociedade da Informação, essa não autenticidade, essa necessidade de ser identificado com algo pré-existente é reforçada, estimulada, incentivada e, o que é pior, valorizada. Nada do que eu estou falando é novo, mas isso não tira a legitimidade do que eu digo, pois me sinto assolada por essa avalanche dos fatos, assim escrevo, ao menos pra fazer valer a minha particular insatisfação.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ponto de fuga

O corpo brilhava com suas vísceras saudando pontas de lâminas. Tão caudaloso era o rio e suas torrentes de sangue. Estarei longe, mas atenta aos seus desatinos. Patética em frente da TV, alimento olhos sedentos de tragédias. O corpo negado. Nada além. O massacre do agora, tudo agora, e os sonhos não fazem mais sentido, pois no futuro não há sentido. As máculas dos anos devem ser devidamente maquiadas, meu amor, negamos todo dia os efeitos do tempo. Alimentando de exageros as máquinas que nos fazem morrer. AGORA, AGORA, AGORA. Nem um tempo a mais para saudarmos outras dores, nem um tempo a mais para divertimos outros corpos além dos nossos, além da dor. Agora, o menino já cresceu. Agora, a fila anda e tudo te atropela. Agora, estarei pronta para as minhas frustrações. Agora, não há mais trigo para o devir. Sorrio sedenta por um ponto de fuga.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

EU TAMBÉM QUERO AJUDAR

Não costumo dar esmolas nem me compadeço com a miséria alheia com ações assistencialistas. Existe forma melhor de combater os efeitos nefastos da fúria da natureza - é não provocando a nossa nem tão doce mãe. Quanto mais pobre é o cidadão, mais exposto está às chuvas e inundações, por exemplo. Você já imaginou Silvio Santos, Daniel Dantas, Eike Batista pendurados no telhado, ilhados pela chuva esperando o resgate? O Estado brasileiro é irresponsável e inoperante - quantas moradias em áreas de risco estão à espera de um grande milagre? Já passamos dá hora de nos vangloriar por sermos um povo solidário, solidariedade de verdade é evitar tragédias, essa nossa demasiada "solidariedade" atesta a nossa probreza diária. Eu não quero participar dessa campanha.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

República de Bananas, câncer e outros venenos.

A vida é realmente um paradoxo. As pessoas costumam dizer: "fulano desenvolveu um câncer", tratanto do que a psicanálise chama de formar sintoma, ou seja, o que não é manifesto, o corpo recalca e volta como sintoma, o câncer seria isso. O inusitado é quando fulano ou beltrano já com um câncer em fase adiantada, a pessoas, a mídia principalmente, costumam dizer "fulano luta contra um câncer". O raciocínio é engraçado (!) - temos o "trabalho" de desenvolver um câncer por anos e depois lutamos contra o que produzimos. Porca miséria! Por isso que o tiozinho existencialista lá dizia - "o ser humano está fadado à liberdade". Fazemos, depois pagamos, sempre.

Na primeira segunda de 2011 um amigo de infância morreu em acidente de avião, tá bom, não era lá um aviãããooo, era um teco teco que servia para jogar agratóxico em bananais no norte de Santa Catarina. O sonho dele era ser comandante de bordo, não conseguiu, teve que sobrevoar a República da Banana jogando veneno - morreu do próprio sonho. Binho, herói ou iludido?

Por falar em veneno, o Big Brother Brasil começou. Deveria se chamar Big Brother Babilonia, tamanho é o exagero sexual. Fiquei vendo o perfil de cada um: modelos, dançarinas, loiras e mulatas profissionais, tem até um baiano que faz jus a todos os estereótipos que nos dão, ou seja, o cara é um daqueles típicos macacos de auditório, falador, sabe "quebrar" a cintura e é, digamos assim, um sujeito simpático e cordial. São esse os tipos da voga.

E eu fico cá pensando: como andam lá os nossos professores? O MEC agora tá fazendo uma propaganda para incentivar as pessoas a se tornarem mestres. Hum, tamanho é o nosso prestígio.

Ao atravessarmos a rua temos apenas dois lados. Cuidado, sempre.

O filme Cyrus dos irmãos Jay e Mark Duplass (2010, EUA) é tão singelo quanto belo e de um humor radicalmente sutil. Jonh (Jonh C. Reilly) é uma escritor free lancer que se separou da mulher e leva uma vida morna. Em uma festa que ele foi a pedido da ex, o desiludido Jonh, depois de uns drinques a mais, empolga-se com uma música e faz aquele velho papel do bebum - chamar a uma platéia refratária para dançar, mesmo sendo rechaçado e ridicularizado por todos. Jonh faz piruetas, mas ninguém parece se compadecer com o espetáculo dado por ele, exceto Molly (Marisa Tomei). Mesmo desajeitado, com uma cara inconfundível de perdedor, Jonh tem lá seu charme identificado por Molly. Os dois passam a ter um romance, mas Molly já tem um homem em sua vida - Cyrus (Jonah Hill), seu filho, um adolescente infatilizado que alega sofrer de constantes crises noturnas de pânico. Jonh vai descubrir que boa parte das crises de Cyrus são tentativas desesperadas de trazer a mãe com exclusividade para junto de si.


O filme oscila entre o trágico e o cômico. Trata das tentativas desesperadas do sexo masculino de conquistar as mulheres - mães, parceiras, amantes. No fundo, os homens são como crianças pedindo a atenção de uma mulher.


Jonh e Cyrus que o digam.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

GARRAS E DECISÃO

Quando meu corpo não aguentar
Tremerei meus ossos
Fervilharei peles
Cravando a mão sem garras com decisão

Estarei plena
Pois todos os significados
Serão em vão
Todas as expectativas
Desesperadas
Não esperarão
É pra já
Pois o tempo é ínfimo
E eu já não me importo mais
É pra já
Pois o tempo é longo
E eu já andei o bastante pra chegar até aqui.

sábado, 17 de julho de 2010

" O cauboy solitário", 1998, do artista japonês Takashi Murakami

Êxtase, arrebatamento e extravagância. Um deleite. A escultura é em tamanha natural, estética mangá de forma inusitada.
a formação pela pedra deforma qualquer um. pedra nas costas. robóticos, sempre querendo satisfazer nossas pequenas necessidades. autómatos, incapazes de comunicação. neuróticos, sempre o nosso ódio latente um pelo outro. babacas, nessa busca pelo amor romântico, ilusório, inatingível. quantas queixas iremos digerir na frente da tevê? quantas pedras ainda?

FILAS

FILA DE BANCO
OLHARES VAZIOS
SÃO COMO BOLSOS SEM DINHEIRO
FORMULÁRIOS
O GOVERNO
O PATRÃO
SEU SALÁRIO
O QUE SERÁ DE VOCÊ?
SEMPRE DEPOSITANDO ESPERANÇAS EM COISAS INCERTAS?

AQUI HÁ UMA ESPERANÇA MORTA
QUE SE ARRASTA EM UM CORTEJO LENTAMENTE
ENQUANTO AQUELES QUE LHE ATENDEM
PROCESSAM SORRISO PLÁSTICO

ESSA FILA É UM FRONT
UMA BATALHA
SEU CORPO SEGUE MORNO ESPERANDO O FINAL
A GLÓRIA OU A DERROTA
VOCÊ OLHA O RELÓGIO
ELE NÃO PARA
CIDADÃO COMUM NÃO É COISA RARA

A FILA É ESCADA, FÓRUM, PROCESSO
SEM FIM
DERROTA OU GLÓRIA?

NA VERDADE, A ALEGRIA

Alegria, alegria de verdade
Pula daqui, pula dali
Venha de lá, pois esse assunto a gente não vai calar
A gente não tem trio eléctrico
Mas a boca é de trombone
Vamo estrondar
Não interessa se eles querem mandar calar a boca, calabar
Somos de Salvador
Mas nosso ritmo é outro
Pula daqui, pula dali
Não queremos essa farsa - corpo, sexo
E tanta coisa que ficou banal
Queremos alegria de verdade, e não só no Carnaval
Alegria no Lobato
Alegria no IAPI
Alegria em Paripe
Alegria em Periperi
Alegria em Itapuã, Malvinas e Cajazeiras

Não somos arroz de festa
Nem macacos de auditório
Nossa boca é de dragão
E preferimos o parlatório
Os nossos olhos veem outro cartão postal
Nossa voz é rasgada, áspera
E pra quem, não gosta de certas palavras duras
Podemos alertar:
A história daqui não é bem essa que você compra no jornal.

SEGUE EM FRENTE


Enquanto a flauta atrai os ratos
O couro come em lombo de nego ladeira abaixo
Olhem pra ele o ano todo
Em Salvador, todo o seu povo
Pula em asfalto quente
Pra se virar, viver ao menos
Mas alguns pensam que isso é alegria
Parece piada, mas não ria
É de mau gosto
Basta olhar em qualquer rosto
Não precisa ir fundo, está na cara
Na boca banguela
Na menina amarela
No barraco
Na favela
E no meio de milhões, eu vejo mais um
Levantar cedo para por a guia
Levantar algum trocado
Talvez se livrar por alguns momentos dessa agonia
Vai vender sua mercadoria
Seja o que for
Óculos escuros
Bronzeador
Cerveja redonda ou quadrada
"Olha a laranja doutor"
E no meio da Avenida
No centro da alheia alegria alegria
Acima da sua cabeça não tem condor
Em cima de sua cabeça um isopor
Ele já zonzo, estourado por gigantes decibéis
Sol escaldante
Ele quase entorpecido, é Carnaval
O suor é frio, não sente dor
Não sente nada
Só ouve um grito alguém blefando
"A Praça Castro Alves é do povo"
Ele não sabe de nada, bom cordeiro selvagem
"É filho de mãe solteira cuja ignorância tem que sustentar"
Ele passa mal, mas segue em frente
Pois é carnaval

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Homeme Labirinto


Entre noticiários e badalações
Um sorriso falso e um adeus sincero
Segue o minotauro pelo labirinto
Metade incoerência metade perfeição
Digladia-se com suas próprias vísceras
Em um dilema quase maniqueísta:
Ser bom ou ser bobo?
Encerrado em seu próprio coração
Já não há mais asas
E nem sempre tem à mão um anestésico eficaz
Um alcalóide, uma paz
Ainda assim queria poder tocar o seu rosto
Mesmo que suado
Queria senti-lo sereno
Mais eis surge pra mim metade homem metade monstro
E eu já não posso mais acompanhá-lo
Pois não sai do seu labirinto.

ESPERANDO UM SIM


O RELÓGIO ESTÁ PROGRAMADO PARA DE MANHÃ - ÀS 6
ENQUANTO, TIC TAC
VOU ESPERANDO UM SIM

QUANDO EU DEITAR EM SEU COLO
EU QUERO QUE VOCÊ ME NINE, NINA
PORQUE TODA NOITE MEU TRAVESSEIRO SE TRANSFORMA EM VOCÊ, VOCÊ
E QUANDO EU LHE CHAMO, CHAMO
VOCÊ NÃO ESTÁ, POR QUÊ?
E QUANDO A SUA VOZ ROUCA ME DARÁ UM SIM, SIM?

QUERO BRINCAR COM PALAVRAS SEM PRETENSÃO DE GANHAR
O TEMPO ESTÁ CONTRA NÓS
HÁ FEBRE
HÁ FRIO
MEU TRAVESSEIRO ARDE
CHAMO

O ÔNIBUS VAI PASSAR CORRENDO
EU NÃO VOU ESTAR LÁ PARA TOMÁ-LO
O RELÓGIO TOCA
O TEMPO ESTÁ CONTRA NÓS
A FEBRE
O FRIO

ESPERANDO UM SIM
VEJO NA PAREDE UM RELÓGIO ESPATIFAR-SE
NÃO QUERO ESPERAR O FIM

terça-feira, 18 de maio de 2010

FENOMENOLOGIA HEIDEGGERIANA DE FORMA POÉTICA
















Aqui vai uma citação do livro "Heidegger" de Zeljko Loparic (2004, Zahar).

"(...) Heidegger meditou longamente sobre os instrumentos que se encontram nos quadros de Van Gogh. Em particular, nos sapatos de camponeses, pintados várias vezes pelo artista holandês. Objetos de uso agrícola, sim, mas, tal como para Van Gogh, também para Heidegger o uso que uma camponesa faz de seus sapatos não é algo a ser pensado exclusivamente por categorias da sociologia rural. Decerto, a utilidade do instrumento consiste na sua serventia. Entretanto, diz Heidegger em A origem da obra de arte (1936), o que transparece, ainda que de maneira obscura, nos sapatos da camponesa de Van Gogh, é a umidade do solo, a solidão do caminho do campo, a dádiva do trigo maduro, o temor pela incerteza do pão, a alegria pela superação da necessidade, o estremecimento pela chegada do nascimento e o temor diante da ameaça de morte. A serventia do instrumento, resume Heidegger, "fundamenta-se sobre a plenitude do ser essencial do instrumento. Nós o chamamos de confiabilidade. Por força desta, a camponesa se entrega ao chamamento silencioso da terra; em virtude da confiabilidade do instrumento, ela é segura de seu mundo. Para ela e para todos que estão com ela ao seu modo, o mundo e a terra estão aí apenas assim: no instrumento".

NOMES DAS PINTURAS POR ORDEM DE ENTRADA:
1. Three Pairs of Shoes (1886);
2. Peasant and Peasant Woman Planting Potatoes (1885);
3. Peasant Woman Digging (1885);
4. Peasant Woman Binding Sheaves (1889);
5. A Pair of Shoes (1886)








quarta-feira, 28 de abril de 2010

Intensidade. Fantasmas. Heranças

Em todas as transferências afetivas que fiz: a intensidade. E, por isso, eu não saber conduzir as minhas palavras, transformando a ação em frustração. Ainda assim, não viro a página remexo em erros como quem revira vísceras, tendo uma falsa ideia de que estou apenas rememorando para não repetir erros, e me perco como um Minotauro. Por isso escrevo, como quem deixa marcas no caminho. Como quem quer provar a si o que se é, mesmo não sendo. Sempre para provar a mim. Sempre a provar a mim mesma com simbologias cujo significado nem mesmo sei. O que falo não é o que eu quero dizer. Não existe intencionalidade, é como se não soubesse a onde vou chegar. "Quando o poeta diz lata pode estar querendo dizer o incabível" (Giberto Gil).

E todas as confusões que faço fazem também uma confusão sobre o outro. E outro pode também agir de maneira esdrúxula, reticente e confusa. Sensações de fracasso são recíprocas, é falsa a ideia de competição num relacionamento seja ele qual for, o máximo que pode haver é um que goze mais e melhor com a dor. Ou quem está de corpo aberto ou com uma armadura. A tal expressão "a fila anda", como se tudo se transformasse em quantitativo é mera mitologia moderna, pois a fila é a própria simbologia da inércia. E a inércia que anda é a própria simbologia do fracasso em qualquer relação: de trabalho, de amor, psicanalítico, enfim. A tentativa de esquecimento é tão nefasta quanto a minha tentativa de revirar vísceras. O problema não está na recusa, mas em como a recusa é feita.

E se a gente for pensar a recusa a partir do ponto de vista historial, a nós, brasileiros, esta vem se sedimentando há séculos, anos de massacres diários, onde somos obrigados a partir sempre, sem muitas explicações, sem dar adeus, sem deixar flores ou recordações. Esta ausência pode ser chamada de indiferença. Admitamos: somos um povo sem elos, apesar dos nossos pesadelos recorrentes, apesar dos nossos imbróglios interpessoais. O que fizemos com o degredo ibérico, a dolorosa partida dos povos africanos e o genocídio tupi-guarani? Somos ainda uma mistura disso.

Não é um problema pessoal seu ou meu. Meu grande sonho e objetivo nesse mundo é tentar reverter, ao menos minimizar isto. Que seja apenas em uma micro escala, na esfera das minhas relações pessoais. Por isso não me sinto ridícula ou estúpida por, de súbito, trocar experiências distintas de vida, só assim eu acho que faz sentido viver. De outra forma não é viver, é sobreviver. É estar presa a procedimentos técnicos racionais que não servem para libertar e emancipar, mas tão somente para condicionar e adestrar.

Quero acreditar que eu posso fazer diferente. Vendo minha herança não como um fantasma, mas como um vento que muda sempre de direção.

domingo, 25 de abril de 2010

IBÉRICOS

OS NAVIOS VEM E PARTEM
MINHA CABEÇA NO MESMO LUGAR
PRESA NO CORPO
PRESO NA TERRA
A MURALHA ESTRAÇALHA
QUALQUER COISA QUE QUEIRA: MUDAR?

DOU A CARA A TAPA
JÁ NÃO DIGO SIM
MINHA VIDA É UM JOGO
TRAÇADO SEM MIM

DIGO ADEUS E NÃO VOU EMBORA
A MORTE CHEGA LENTA PELA TELEVISÃO
PELA GELADEIRA
PELO ARMÁRIO
E POR OUTRAS COISAS QUE A NATUREZA CUSTA A RECICLAR

A SODA CÁUSTICA COME RÁPIDO
O QUE A PALMA DA SUA MÃO FEZ TÃO LENTAMENTE
A PERFEIÇÃO, O LÁPIS DE COR - ROSA, VENTO ...

VEJA A BAÍA SEM SANTOS
FANTASMAS DANÇAM DOIDOS
FINGINDO LHE DEIXAR FELIZ
NESSE LUGAR DE LUZES AMARELADAS
RUAS ESCURAS
E LADEIRAS QUE LHE DEIXAM EXAUSTO
NOS MASSACRA O SAMBA
PARA ESCONDER ESSE CLIMA DE FADO

TOCA UM SAMBA SEMPRE
A FIGURA DESDENTADA
ESCONDE O CHORO NA CACHAÇA PURA
MORRE DISTANTE...
NÃO DIZ ADEUS

...DIGO A VOCÊ QUE SIGO FELIZ
REPITO PRA MIM QUE ISSO É VERDADE
DIGO A VOCÊ QUE SIGO FELIZ
REPITO PRA MIM QUE ISSO É VERDADE
E VOCÊ, CANALHA, ACREDITA ...

BRECHAS DO ENTARDECER


Foi lá e não comprovou
O medo da coragem
Olhos vendados
Fechando janelas, não há entardecer
Dias, dias, dias ...
Sombras testando reflexos tortos
Membros desconexos
A dança, os copos, a queda
Um toque abrupto
Vidros estraçalhados ameaçam
Todo mundo quer uma bomba atômica na mão
Para valer suas verdades
Todo mundo faz roleta russa
Um sim, um não, um sim, um não
Brechas do entardecer
Pétalas de um mal-me-quer
Um ruído escapa
Por uma brecha
Um sentimento