sexta-feira, 11 de novembro de 2011

rasgava a cidade ao meio
sustentando com as costas seus restos
embalados em sacos pretos
bicicletas rosinhas
logo estariam junto a amontoados de preces
e feijão moeda de troco e nada mais
não tinha o que declarar
uma palavra desdita
é como declaração de morte imediata
os pés rachados da mistura que ficou do seu caminho
calor, lama e cacos de vidros repisados
causava estranheza por não acreditar na palavra amor
e como é que poderia acreditar
em dias que só prometiam mais restos de sacos, latas e plásticos
sua vida a vender garrafa pet
ele sabe do luxo por cachorro pet
comercializando felicidade por cinco reais
e crack, e cidade rachadura
e cidade baixa
e cidade alta
altas horas, segue ele seguindo sacos pretos
seguido de cachorros e uivos
a cidade chove e ele a desafia
a seguir morrendo por mais um dia

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

fez castelos, desfez pesadelos e adiou muitos sonhos

ao lado de chumaços de cabelos, lama, restos de palhas de piaçavas de vassouras velhas, bitucas de cigarro devorados por adultos ávidos. passou uma boa parte da sua infância aí. imaginava tendas de circos e rodas gigantes domingo à tarde. sabia que pouco tinham preparado para a sua insurreição à terra. a pele esverdeada e um olhar de criança autista, tinha vindo do fundo, do lado do que se evita ver. aos gritos da manhãs aflitas alentava pedindo um pouquinho mais da segurança transitória das cobertas sob telhados de amianto muriçocas famintas e histéricas e ventiladores empoeirados. ah, aprendeu a não desejar, a negar a presença do corpo que pouco sentia, apenas adiava, adiava, para outros dezembros. imaginava que tudo era tão fabricado quanto leite longa vida e vacas de presépio, ali naquele beco fez castelos, desfez pesadelos e adiou muitos sonhos. transitou a vida como uma boca que baba entre a repulsa e o mini desejo de açúcares e carboidratos.

domingo, 16 de outubro de 2011

projeto minoru yamasaki: 107 dentes acima da sua cabeça

... na sua b.o.c.a, o gosto das cinzas, da acetona, do ar que lhe faltou. comprimido que estava ao passar em r.u.a.s com seu turismo errante t.a.l como um encantador de naja, como uma nadja de andré breton, o acaso objetivo, o ocaso subjetivo de suas artérias multívagas e vozes saindo por equalizadores distorcidos, como pães que foram acariciados por diabos incapazes de ouvir uma dor sem dar uma risada de escárnio. (atenção, todos os carros, a.t.e.n.ç.ã.o, todos os carros) a sua cara cuspida encarnada em mármores de carrara qual o édipo torto que fica no jardim que vai para proferir suas palavras tortas, seus desejos obscuros e as coisas que não sabe e sabe também e esses botões que aperta tentando grafar ao menos alguma coisa precisa e aliviar sensações estranhas com objetos intransitivos. (peguem as câmeras fotográficas, peguem suas digitais). mas vieram as cinzas na boca no ar e milhares de papeis voando desde o último andar do projeto minoru yamasaki 107 dentes acima da sua cabeça, cheiro de carne queimada também dá a entender que depois da rosa de hiroshima estaria junto com as crianças no zoológico de quimeras deformadas em formol de fetos e não possuíam membros externos mas que os primeiros a se formar seriam botões de olhos assustados para atestar a sua condição de fugitivo das águas termais amnióticas. (close, close na próxima tragédia) as fogueiras hippies foram todas queimadas, assim decidiu floresta adentrar para reabastecer a lenha do fogo do princípio das suas invenções e quando viu era uma nuvem de répteis pré-históricos agarrados a seu pescoço e seu irmão lhe confidenciando pesadelos de arames farpados e genitálias castradas e que as crianças agora desmanchavam o sorriso em semblantes refletidos em doces dores de estimação. no horizonte algodões doces gelatinosos cristalizados em expressões que lhe doíam a garganta, e sua perplexidade diante da confusão que causava ao explicitar aflições quando nas mesas brasileiras só esperavam além do pão um pouquinho mais de piada ...

sábado, 15 de outubro de 2011

de costas pro ar

não pensava sobre o assunto, mas sabia que ele iria bater à porta sempre, como um portal que nunca se fecha, sempre oferecendo possibilidades de propostas de cura para a solidão. voltava á rua, seus perigos, seu fedor de mijo esquina gente esquálida, quanta droga ainda teria que tomar para aliviar e aguentar. seu dinheiro tomado por crack do seu suor tomado por dores. e a cidade lhe invadia a pele como o calor de um dia quente inevitável. todos os olhos eram olhos vigilantes sem nunca terem sido observados. suas meninas e promessas duravam apenas até o amanhecer. com o sol acaba o brilho e o disfarce. acabam-se as promessas. e ele sempre insistia em acreditar que sempre estava enganado ao se enganar. perdia a certeza que todos os seus enganos viam por escolha própria. ali, onde seu coração estava era um lugar inóspito. hospitais honoris causa pululando seus desejos fetos. suas ardências pimentas cerebrais, seu cérebro estava sempre à espreita de gretas, de fumaças, de caquinhos no chão, seu cérebro espreita inimigos invasores imediatos ameaças constantes desequilíbrios estáveis palavras impalpáveis dores cimento e alcaloides sempre insuficientes, sempre à falta. seus monstros não deixavam seus anjos descansar, seus monstros sempre despertos como o próprio ar. e foi para o último prédio do último andar e largou-se de costas para não ver a inevitável decisão do seu último andar desandar. na boca ainda sentia o gosto de cinzas do éter do ar que lhe faltou ...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

a sabedoria está lá fora, saia

coração e mente de gente são terras em que não se deve pisar, me disse hoje uma trabalhadora dando sua diária em minha casa. ela parece não mais se espantar com comportamentos escorregadios de quem a gente menos espera, aliás ela não espera. acorda às quatro da matina em castelo branco, bairro periférico de salvador. leva duas horas e meia no buzão. arruma tudo, passa e ainda faz o almoço. sempre calma e com um bom conselho pra me dar. tem sido uma grande companheira das quintas feiras, acho que ela nem se dá conta da importância que tem tido em minha vida. magrinha, mirrada, cearense. outro dia me saiu com a tirada "tem gente que vegeta na ignorância"; eu não pude deixar de rir um senso tão preciso da brutalidade humana. e pensei: "há pessoas que levam anos para descobrir que a ignorância é um estado vegetativo". rá, rá. Ainda nas suas palavras precisas me disse perplexa: "tem um canal de tevê lá casa que só passa as tragédias do rio e são paulo". rá, rá, mais crítica que isso... e nem precisou ler a escola de frankfurt. a cada dia me interesso mais pelo que está fora dos cânones da escola, a sabedoria está lá fora, saia.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

a tornar som o ruído da cidade

meu tambor descompassado manda sinais
avisos com muita antecedência que ele muitas vezes se trai
em gangorras e outros temporais
visgo de dor é pé na jaca
poesia de amor é lâmina da faca
corte preciso sem cálculo
apenas resultados de notas claras
a tornar som o ruído da cidade

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

meninogatoamendoim

meio dia!
os olhos brilharam,
- amendoim!, o menino gritou!
pequenas porções de vida doce
embalar sonhos com 1,00 R$ de planos
no futuro, satisfação agora
sua casa, minha sina
meus cartórios em quadratura com suas oito horas e cartões de ponto
beijo em seus pequenos intervalos
acarajé ao fim da tarde
junto com vento leve e primazia de outras promessas reconhecidas a um passo do sim
sem recomeço: a estrada não tem porteira nem fim
cante de novo - algodão doce, pipoca, roda gigante
euforias ao estilo de cores de bandeirolas, são joão, verduras e legumes na feira
o cheiro da infância na fruta doce de verão
acenar com possibilidades
destronar mazelas
frutificar a sorte pronta para quedas, poeiras, olhos, cinzas
meio dia e saber que ainda nos restam velocidades inteiras
das belezas dos nossos restos de dia sem dono
a formatação da dor tem cara nova para propostas velhas
mas sairemos ilesos se soubermos disso ao hastear nossa bandeira de outros escapes
sete vidas e o pulo do menino gato
amendoim, amendoim!

domingo, 14 de agosto de 2011

pulsando numa fotografia

vi ali algo mais ou menos como dizer não
você já teria voado
e meus passos foram incapazes de chegar aos seus
sua voz seus dentes
meu indiferente riso
meu olhar já capturado pela fábrica indigente
e o descompasso quando tento acertar
o ritmo compassado dos meus erros e o eco que eles fazem
prometendo imagens exatas do que já nem sou
e se eu nem me importar?
e se já não falo o que querem?
onde estará melhor os meus reflexos?
se o presente é um tempo que evitamos tanto
se o futuro é todo o nosso projeto de vida
o dia diluído em dilúvios
faço a sonoplastia com trovões extraídos de raio x
e você estará lá, e você estará lá, pulsando numa fotografia

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

MINHAS DORES DE TWITTER

Meu corpo encobre os fios dos faróis dos carros velozes
Já sinto no asfalto o suor da minha pele fria
Mas não sinto nada
Além de uma confusa sensação de saturação e vazio
Minhas digitais tocam o sino de um relógio antigo na estação de trem
Recorro aos velhos coretos para cantar minhas dores de twitter
Meu rosto sem perfil transita em uma imensidão de inexistentes redes sociais

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um blues antigo para Amy Winehouse

Ao por do sol
Homens de preto
Cantarão à sombra do seu corpo
Um blues antigo
Rasgando com a voz a tarde que vai longe
As lágrimas já secas
Trarão ao rosto de cada um
Uma calma opiácea
Quem sabe um dia encontraremos o caminho para casa
Quem sabe um dia nossos pulmões e ossos não estarão doentes?
A tarde de um sábado será tão serena
Deixemos a dor ao piano, ele sabe o que fazer com ela
Deixemos dançar ao piano, a dor que baila tão bela
A deixemos só
Você encontrará o caminho de casa com as lágrimas já secas no rosto
Você ainda precisa sussurrar
Essa sua voz toma a sala deixando tudo à meia luz
Encobrindo feridas na face
Encobrindo feridas

quarta-feira, 15 de junho de 2011

sintoma

vai voltar a fazer besteira
arranhando na parede a cara boba
busca a faca e qualquer outra coisa da instabilidade
acende velas nos altares dos gritos sob a neblina
mastiga o asfalto que derrete a pressa dos arbustos seculares
refuga a fumaça que sempre vem independente do desejo
acolhe com carinho seu algoz
e sabe que ninguém entenderá
e sabe que ninguém
e sabe que
e
que
sabe?

o pão do fundo do pacote

tímido, como um pão amassado no fundo do pacote
trôpego, escondendo uma ferida que ardia e não era pouco
trazia o olhar enviesado da infância atormentada
fazia da frivolidade sua máxima ironia ao mundo
sabia que não tinha muita importância
e já tinha até se acostumado o isso
seguia fazendo grandes maldades sem importância

domingo, 5 de junho de 2011

muitas vezes ainda maniqueísta

Essa histeria tecnológica me incomoda. Sim, já não temos mais silêncio, desejosos ávidos pelas novidades do vale do silício. Continuo comprando informação, sempre, muita, ato contínuo, e cada mais e mais em minhas reflexões solitárias. Ah, dizem por aí que só vejo o lado negativo da vida! Mais quá! Como se os lados fossem coisas apartadas de si mesmas - se são lados, sempre são vários. E, sempre, alguns, é claro, me veem assim, de um lado só, na minha imagem analógica do negativo e do positivo. Ah, vida breve! E essa exigência da complacência e da disposição para o engodo e o riso do sorriso do gato de Alice. Escondo no ardor do meu estômago as minhas falsas lágrimas. Escondo sempre, e dos lados, sempre destacam um para me classificarem de alguma coisa, pois a única coisa que exijo é não ser apenas um papel, uma função, uma tipificação do sujeito contemporâneo produtivo, bem informado, extremamente conectado, mas enfim, muitas vezes ainda maniqueísta.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

enquando crompam o ipad2
fico a dois passos de mim
recito ofensas
repito crenças
em templos de deuses máquinas
em tempo de corpo sem órgãos
novos nexos
negação do agora
exaltação do novo
exumação do corpo
a dois passos de mim

quarta-feira, 25 de maio de 2011

aos imbecis e o medo do humano demasiadamente humano

cai chuva sobre a cidade sol. meu corpo já escorreu pelo asfalto. sobrevivo aos que só admitem prantos em novelão mexicano. não consigo esconder tragédias. você e suas comédias. você e sua prosódia. não acompanha descompassos desrazões. suas tolas canções rimadas. suas velhas motivações quadradas. suas emoções baratas, suas liquidações

sexta-feira, 13 de maio de 2011

gigante enfant terrible

de mim?
o meu súor?
o meu fígado?
o meu súor?
o meu discernimento?
o que criar para além da minha alienação?
além dessa bolha-tempo?
blindagem de emoções
onde campos de sobrevivência eclipsam novos prazeres
um agir máquina que transforma meu tum tum tum de peito
em tic tic tic nervoso
paralisia
afasia
hipertrofia
palavra sim
palavra não
amoeodeioaminhaqueda
meu gigante enfant terrible
alimento disparates
dos meu fins
incorporações desse descorpo
escaleta sem contorno
do espaço vil entre você e o mundo
entre você e o mundo
há um entre que não é seu nem do mundo
e disso?
um salto
um passo
(ah, queda boa de se dar quando as escolhas são tecidas no desconhecido... mas todas as escolhas são tecidas do desconhecido)
o tempo faz seu trabalho não parar
moeda de troca
fígado
moeda e toda sorte de exaustão
mas você reinventa glórias e cartões de ponto
transforma em arco-íris seu código de barra
e continua acreditando
eis sua glória e seu fracasso

sexta-feira, 15 de abril de 2011

sem o zicartola

disseram que você tava por aí, andando pelo zicartola
sentado de copo cheio e tripa frita no prato
de papo com uma dona
que andara por aquelas bandas em busca de algum trocado
camisa aberta no peito
suor escorrendo na testa
sorriso derretendo no rosto
seu bocado de mágoa

"cabrocha, que é que tu queres, além de todas as cores?
cabrocha, de sete gatos, mil disfarces tens"

amores são sempre mil
nos ventos desses meus morros
sopros de um sorriso arredio

disseram que te viram por aí de óculos rayban na cara
chapéu pendendo pro lado
na manga, algumas cartas
nas mãos, algumas penas

"tira o teu caminho da cartola
que eu quero pássaros fora do ninho
tira o teu cinismo do caminho que eu quero alardear o meu amor"

disseram que te viram por aí de saudade e adeus nos braços
sem o zicartola
sem versos no pé
com sede na alma

"se mandou, acabou o meu amor
acabou, se mandou o meu amor
sem uma palavra
sem verso no pé
sem o zicartola
sem aquela dona
sem o meu amor"

terça-feira, 5 de abril de 2011

dos verbos que escolheu pra si

fantasmas desde sempre corpo lâmina repousa no grande sono da eternidade atualizando antigas dores inconscientes que levam pra longe seus ecos palavras gastas por anos tentando sanar pequenos males com seus grandes estragos você copia a si mesma numa obra de arte de segunda classe nesses dias desbotados - de concreto e aço ossos e ofício homens lata praga de corações derrotados, sem sonhos: cansados acostumados a abandonar filhos soprados por sombras de gigantes culpas olha só o que lhe restou nessas ruas de emoções desertas vias paralelas de olhares míopes embaçam esboços de horizontes onde os fragmentos do seu corpo antecipam a sua presença e a sua queda harpas, hércules retrocessos de verão vertentes de verdades perversas dessas que matam pelo silêncio dessas que separam mãe e filho dessas que eternizam o gosto amargo na boca e se disseminam mais rápido que rede de boataria mais fácil que o ácido insuportável efeito da desonra é assim o veredito dos verbos que escolheu para si

quarta-feira, 16 de março de 2011

POLISSEMIA DAS PALAVRAS

No ponto de ônibus. Olhar aflito, seu ônibus demora. Rói as unhas. Aperta os dedos. Olha à sua volta. Olha os transeuntes. Em redenção ela grita: Águas Claras. Desejosa de novos climas, clamando por novos ares. Não, não era nada disso e no entanto era tudo isso - era o ônibus de sua quebrada que chegara. E assim vamos vivendo os nossos dias com essas pequenas glórias.

quarta-feira, 9 de março de 2011

já lavei minha alma. não há o que transportar nesse vazio de emoções velhas. não há do que reclamar. encare, a quaresma começou, suas desculpas acabaram, e na cruz disseram que suas punições teriam louvores a mil anos luz.

terça-feira, 8 de março de 2011

CARNAVAL?

FOTO: GardeniaDultra


NÃO SE ESQUEÇA DE MIM

o trio toca. crooners anunciam um arrepio avassalador. a chuva cai. a chuva passa. não importa. onde estão meus filhos? barriga cheia ou barriga vazia? e este povo me fotografando? e este povo pulando? onde estarei agora? onde estarei amanhã? amanhã? agora? ouço gritos ecoando no asfalto quente e molhado. ouço o silêncio das minhas alegrias. ouço o estrondo das minhas incertezas - carnaval.


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

a amplidão do som na escuridão noturna
tantos mundos, e você aí, esperando aparar corações
na verticalidade da minha vertigem me precipito em imagem
radicalizo emoções
binóculo do teu espelho na lentidão da minha maneira de criar a ti - soy loco por
maravilhas, café e pão ao meu jeito de possibilitar dimensões
em tempo de chegar e partir
como a primavera e o verão
como o amanhecer e as asas da coruja
como as limitações do agora
e as promessas de futuro

serei breve
a ponto de sacrificar paladares
a ponto de me deixar sumir
a ponto de
o dedo em riste com seus imperativos
sempre querendo interferir em mapas colados em papéis : PAREDE
não tentarei enfins
cansada de tantos bastas ao pensamento
os meus rios querem marear
cantos, cantos, o meu laralará
o meu lá
lar onde cultivo impossibilidades
corpos
extensões
cronos
desejos de vir - a defesa da alma às máquinas de morte
corte de prazer
laboratório de alquimias perversas
estátuas
gesso de eras por tiranos
teus sonhos precisam viver

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

que preocupação

dois homens sentados na estação de transbordo, compenetrados, tensos e preocupados: falavam de um terceiro que, segundo eles, merecidamente tinha levado a pior. mal caráter, fofoqueiro, o destino dele deveria ser a sarjeta. intrigada e curiosa me liguei na conversa, pensei: "puxa, como eles estão preocupados, como aparentam que alguma situação grave aconteceu". a conversa foi e o esperado foi revelado - o assunto era sobre o último eliminado do big brother brasil.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

andar às margens dos teus rios, salvador

andar às margens dos teus rios, salvador. sentindo o agressivo odor das tuas águas mortas. plásticos devoram peixes, enquanto meninos pirateiam sexo, mentiras, e outras histórias mal contados no intervalo entre tuas passarelas que separam um lugar do outro. o grito de propaganda desce pela guela abaixo daqueles que anunciam pregões dos produtos da china. a tua globalização chegou assim, no teu arrocha àqueles que tiveram que aprender a manipular a tecnologia na tora; na tua negação àqueles que aprenderam a produzir com a reprodução, a cópia da tua esmola escolar, do desprezo elegante dos teus intelectuais aos que estão fora dos curriculos lattes. andar às margens dos teus rios, salvador, é sufocar no teu calor e ter uma sede insaciável. é ver nos viadutos clarões que estalam no crack da tua mitologia - seja católica ou pagã. andar às margens do teu rio, salvador, é navegar pelas tuas mentiras que insistem em esconder as tuas dores.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

satisfação?

O turbilhão de fatos que atropelam a gente. Vivemos a ditadura dos fatos. Possibilidades de reinvenção do cotidiano, de criação de outras formas de ver o mundo são terrivelmente reprimidas. Pierri Bourdieu discorre sobre isso em o "Poder Simbólico", uma elite tem a possibilidade de criar e fazer valer formas de significação para o mundo. Não que não tenhamos a nossa própria subjetividade, mas desde Aristóteles sabia-se que o ser humano tende sempre a mimesis, à cópia. Com a Sociedade da Informação, essa não autenticidade, essa necessidade de ser identificado com algo pré-existente é reforçada, estimulada, incentivada e, o que é pior, valorizada. Nada do que eu estou falando é novo, mas isso não tira a legitimidade do que eu digo, pois me sinto assolada por essa avalanche dos fatos, assim escrevo, ao menos pra fazer valer a minha particular insatisfação.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ponto de fuga

O corpo brilhava com suas vísceras saudando pontas de lâminas. Tão caudaloso era o rio e suas torrentes de sangue. Estarei longe, mas atenta aos seus desatinos. Patética em frente da TV, alimento olhos sedentos de tragédias. O corpo negado. Nada além. O massacre do agora, tudo agora, e os sonhos não fazem mais sentido, pois no futuro não há sentido. As máculas dos anos devem ser devidamente maquiadas, meu amor, negamos todo dia os efeitos do tempo. Alimentando de exageros as máquinas que nos fazem morrer. AGORA, AGORA, AGORA. Nem um tempo a mais para saudarmos outras dores, nem um tempo a mais para divertimos outros corpos além dos nossos, além da dor. Agora, o menino já cresceu. Agora, a fila anda e tudo te atropela. Agora, estarei pronta para as minhas frustrações. Agora, não há mais trigo para o devir. Sorrio sedenta por um ponto de fuga.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

EU TAMBÉM QUERO AJUDAR

Não costumo dar esmolas nem me compadeço com a miséria alheia com ações assistencialistas. Existe forma melhor de combater os efeitos nefastos da fúria da natureza - é não provocando a nossa nem tão doce mãe. Quanto mais pobre é o cidadão, mais exposto está às chuvas e inundações, por exemplo. Você já imaginou Silvio Santos, Daniel Dantas, Eike Batista pendurados no telhado, ilhados pela chuva esperando o resgate? O Estado brasileiro é irresponsável e inoperante - quantas moradias em áreas de risco estão à espera de um grande milagre? Já passamos dá hora de nos vangloriar por sermos um povo solidário, solidariedade de verdade é evitar tragédias, essa nossa demasiada "solidariedade" atesta a nossa probreza diária. Eu não quero participar dessa campanha.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

República de Bananas, câncer e outros venenos.

A vida é realmente um paradoxo. As pessoas costumam dizer: "fulano desenvolveu um câncer", tratanto do que a psicanálise chama de formar sintoma, ou seja, o que não é manifesto, o corpo recalca e volta como sintoma, o câncer seria isso. O inusitado é quando fulano ou beltrano já com um câncer em fase adiantada, a pessoas, a mídia principalmente, costumam dizer "fulano luta contra um câncer". O raciocínio é engraçado (!) - temos o "trabalho" de desenvolver um câncer por anos e depois lutamos contra o que produzimos. Porca miséria! Por isso que o tiozinho existencialista lá dizia - "o ser humano está fadado à liberdade". Fazemos, depois pagamos, sempre.

Na primeira segunda de 2011 um amigo de infância morreu em acidente de avião, tá bom, não era lá um aviãããooo, era um teco teco que servia para jogar agratóxico em bananais no norte de Santa Catarina. O sonho dele era ser comandante de bordo, não conseguiu, teve que sobrevoar a República da Banana jogando veneno - morreu do próprio sonho. Binho, herói ou iludido?

Por falar em veneno, o Big Brother Brasil começou. Deveria se chamar Big Brother Babilonia, tamanho é o exagero sexual. Fiquei vendo o perfil de cada um: modelos, dançarinas, loiras e mulatas profissionais, tem até um baiano que faz jus a todos os estereótipos que nos dão, ou seja, o cara é um daqueles típicos macacos de auditório, falador, sabe "quebrar" a cintura e é, digamos assim, um sujeito simpático e cordial. São esse os tipos da voga.

E eu fico cá pensando: como andam lá os nossos professores? O MEC agora tá fazendo uma propaganda para incentivar as pessoas a se tornarem mestres. Hum, tamanho é o nosso prestígio.

Ao atravessarmos a rua temos apenas dois lados. Cuidado, sempre.

O filme Cyrus dos irmãos Jay e Mark Duplass (2010, EUA) é tão singelo quanto belo e de um humor radicalmente sutil. Jonh (Jonh C. Reilly) é uma escritor free lancer que se separou da mulher e leva uma vida morna. Em uma festa que ele foi a pedido da ex, o desiludido Jonh, depois de uns drinques a mais, empolga-se com uma música e faz aquele velho papel do bebum - chamar a uma platéia refratária para dançar, mesmo sendo rechaçado e ridicularizado por todos. Jonh faz piruetas, mas ninguém parece se compadecer com o espetáculo dado por ele, exceto Molly (Marisa Tomei). Mesmo desajeitado, com uma cara inconfundível de perdedor, Jonh tem lá seu charme identificado por Molly. Os dois passam a ter um romance, mas Molly já tem um homem em sua vida - Cyrus (Jonah Hill), seu filho, um adolescente infatilizado que alega sofrer de constantes crises noturnas de pânico. Jonh vai descubrir que boa parte das crises de Cyrus são tentativas desesperadas de trazer a mãe com exclusividade para junto de si.


O filme oscila entre o trágico e o cômico. Trata das tentativas desesperadas do sexo masculino de conquistar as mulheres - mães, parceiras, amantes. No fundo, os homens são como crianças pedindo a atenção de uma mulher.


Jonh e Cyrus que o digam.