sábado, 21 de julho de 2007

Rosebud




Rosebud,

O nosso Cidadão Kane foi-se. E com uma cara esfingíca, suas últimas palavras foram: "E pra que tudo isso?". Eu arrisco a solucionar - Rosebud.

A história apunhalou um tigrão cruelmente, devolvendo-lhe todos os seus bilhetinhos com pequenos e grandes pedidos, cobrando com juros despotismos e vaidades. Deu adeus no ascetismos branco do hospital, longe do calor da política. Ali, onde quase nunca se pensa numa história, mas num rim, num fígado, num pulmão, num corpo repartido, retalhado. Na mão de algum tecno-tirano.

Foi-se, não como o filho, no auge, mas ali, num crepúsculo, vendo o fim não apenas de sua própria vida, mas de seu modelo, do seu estilo, e o que mais lhe doeu, sem ter a chance de chegar para o natural herdeiro e professar: "Filho, um dia isso tudo vai ser seu."

Agora, nas esquinas o exercício da "praga com cerveja" deverá achar um novo algoz, nessa nossa lógica do "Senhor e do Escravo".

Um tempo mais escorregadio se instala- escravos e senhores não aceitam a reconhecerem-se como tais.

Era tão mais fácil o tempo em que achávamos as soluções lendo a Arte da Guerra de Sun Tzu
(clique para baixar o livro), ou o Princípe de Maquiavel (click aqui para baixar o livro).

Agora, Rosebud...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Toda prova tem um crime


Eu sou uma assassina
Hoje mesmo peguei meu coração
Segurei forte com as duas mãos
Espremi tanto, até não restar mais nenhum sentimento
Até ele ficar branco de tão sem graça
Mas não sou uma profissional na arte de estrangular emoções
O crime não foi perfeito
A prova ainda está na minha mão
Agora é pior, os sentimentos não estão mais guardados no meu coração
Estão jorrando da minha mão

terça-feira, 10 de julho de 2007











CONTRIBUIÇÃO A ANDY WARHOL
OU
ESTÉTICA DA GUERRA COTIDIANA
OU
MISS SUPERMARKET
OU
CAMPEÕES DE AUDIÊNCIA
OU
CESTA PLÁSTICA BÁSICA
quais produtos faltaram?
































quarta-feira, 4 de julho de 2007

CLARIS





O Porquê de eu estar escrevendo sobre "A Paixão Segundo GH"

Descobri tardiamente Clarice Lispector, confesso, mas ainda a tempo. Não que eu sofresse com o estorvo de não gostar de ler, é que a minha adolescência foi tomada demais pelos "clássicos", é assim que os militantes chamam as leituras nem sempre divertidas de Marx, Engels, Lênin, Trotski, Rosa de Luxemburgo, ... Dessa época agradeço ter conhecido Maiakovski, a excelente reportagem de Jonh Red em "Dez Dias que Abalaram o Mundo", e a grata surpresa de saber que Trotski era muito mais intelectual que militante.

Bom, a descoberta séria de Claris (é assim que passo a chamá-la) deve-se à psiquiatra e psicanalista Denise Stefan. Sim, foi através da sua dissertação de mestrado que pude ver CL sob uma outra ótica, antes ela era pra mim apenas uma escritora de quem se falavam muito (e eu estava "ocupadíssima" com os clássicos).


Mas os meus escritos são pura literatura, é só catarse. Acredito que a Paixão Segundo GH não seja um livro que quando se acabe de ler, é só fechá-lo e volta-se à normalidade. Não. Por isso eu não quis escrever sobre "A Paixão Segundo GH" eu TIVE que escrever, foi imperativo, me invadiu. Além, do mais sou de Claris uma navegante de primeira viagem. E como quase todos pertecentes a essa categoria, não raro são tomados de certo deslumbramento (ou encantamento?)
Bom, é isso.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Automatismo Psíquico



Automatismo Psíquico, Surto ou a Explêndida Lógica dos Loucos?



Quando comecei a ler a Paixão Segundo GH ¹pensei de cara "isso é automatismo psíquico puro". Aí fui como quem quer mais do mesmo, e descobri uma quase obsessiva lógica, onde o início deve repetir exatamente o final.


A personagem, de Clarice Lispector, debate-se consigo mesma, e faz da sua casa um outro grande estranho com o qual tem que se confrontar. A casa não como aconchego, a concha do ego, mas como perdição, como o inóspito, o novo assustador inevitável de todos os dias. E o mais terrível, que ali, dentro do que deveria ser a concha, o caracol.


E o que Claris faz para ilustrar esse assombramento com o novo, com o descobrimento? Qual a alegoria, a metáfora? Ela transforma os seus labirintos internos em espaços da casa:



Ontem de manhã - quando saí da sala para o quarto da
empregada - nada me fazia supor que eu estava a um passo da descoberta de um
império. A um passo de mim
(p.19)


Naquela manhã, antes
de
entrar no quarto, o que eu era? (p.19)


O apartamento me reflete (...) Como eu o apartamento tem penumbras
e luzes úmidas,
nada aqui é brusco; um aposento precede e promete o outro. Da
minha sala
de
jantar eu via as misturas de sombras que preludiavam o living.
(...) minha
casa é uma criação apenas artística. (p.26)


Olhei a área interna, o fundo dos apartamentos para
os quais o meu
apartamento também se via como fundos. Por fora meu
prédio
era branco, com
lisura de mármore e lisura de superfície. Mas por
dentro a
área
interna era um amontoado oblíquo de esquadrias, janelas, cordames e
enegrecimento de chuvas, janela
arreganhada contra janela, bocas olhando
bocas.
O bojo do meu edifício era
como uma usina. A miniatura da
grandeza
de um panorama de gargantas e canyons(31)


O que eu estava vendo naquele monstruoso interior de
máquina, que
era a área interna de meu edifício, o que eu estava vendo
eram
coisas feitas,
eminentemente práticas e com a finalidade
prática.

Mas algo da natureza terrível geral - que mais tarde
experimentaria em mim - algo da natureza fatal saíra fatalmente das mãos da
centena dos operários práticos que havia trabalhado canos água e de esgoto,
sem
nenhum saber que estava erquendo aquela ruína egípcia para a qual eu agora
olhava com o olhar de minhas fotografias de praia. (p.
31-2)



E diante dessa casa labirinto de um eu, segue a personagem GH, invadida pela cruel banalidade da vida, das paredes radicalmente brancas, das baratas, seres milenares, que assustadoramente prosseguem por eras passeando sobre nossas ruínas.

Onde pra mim havia uma absurda escrita, revela-se aquilo que sempre tentamos esquecer, esconder, os cantinhos da casa, as baratas, o pó, os ferros retorcidos. Tudo revelado como um grande anti-clímax, um anti-suspense, qual a sina de GH? Seria lamber as eras incrustadas nas pré-históricas baratas pós-modernas?


1. LISPECTOR, Clarice (1925-1977). A Paixão Segundo GH. 6ª edição - Rio de Janiero: Nova Fronteira, 1979