terça-feira, 22 de abril de 2008

AUTÔMATOS

já ouvi "todas essas coisas tem a força de um inferno"
e continuo com um assombro Lispector
prossigo pasma que nem a GH diante da barata
bem antes de mim elas já estavam aí – o caldo da vida a perfurar crateras e sucumbir gente
enquanto máquinas, furadeiras, motosserras
preparam seus exércitos de homens húmus
desejos de automação para construir vidas, infernos
e essas coisas que não param e talvez nunca vão parar
sempre no canto o traçado da geometria
vai vazar, vai sangrar e são nas bordas onde as pessoas vão estar
forçando contagens regressivas vinganças
e nêmeses estelares brilhando e acenando frenéticas
meu próximo passo será o teu passado
a perfeição é genética da alegoria do controle
o controle é o desespero de quem ordena, o desespero é a
máxima certeza do erro

Volta super rápida de trás pra frente

A fumaça batia a cara no vento
O horizonte seguia até a moto
Que transportava estradas
O corpo emoldurava invólucros
Até cidades construir tijolos
Anões carregando gigantes
E raízes brotando sementes
Velhos tronavam-se crianças
E dinheiro chegando até a mão
E a gaveta guardando roupas
Até meu corpo despi-las
A involução do Katrina
O velho blues tocava na esquiva
Onde mijos construíam cachorros
No ar, o tapa na cara
Atrás do coração uma palavra boba
Onde postes seguravam mijos
E o latido ia pra boca do cão
No ar a cara no tapa
O desencontro atrai uma palavra boba

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Como no vento

o vai nem sempre vem
o vem nem sempre vai
o vai e vem
meus sentimentos soltos
nem sempre livres
mas a luz do dia há de mostrar todas as novas possibilidades
sem sustos do susto
entre surpresas
e uma certeza: não há mais tanto tempo para ser triste.

28.08.2006

distanciando

há aqui uma coisa a menos, uma alegria, uma disposição, uma esperança
há aqui uma coisa a mais, uma tristeza, uma prostração, um desencanto

um dia, esperei chegar (foi longa a espera...)
e quando aconteceu, me atirei veloz
pensei que isso fosse me fazer acertar mais
escondi certas mazelas
ate sonhando com o presente
agora, quando uma ausência mostra toda a sua intensidade
não sei se nego, não sei se afirmo
é como um faz-de-contas de mal gosto
uma previsível brincadeira de playground
e quem está do meu lado tem isso como trunfo: em suas mãos as minhas vísceras, o meu pulsar
eu sou um trunfo, um brinquedo, um jogo de azar
mas eu também dou de rasgar máscaras e vestir outras máscaras,
e, se no jogo, o lance é não terminar
pus ali um ponto, e dobrei a esquina
ainda tenho muito a acertar comigo mesma

quinta-feira, 17 de abril de 2008

dói pela perda dói pela falta dói simplesmen

crédito da imagem
nunca quis olhar no espelho e reconhecer minhas falhas no trato com o amor
dói pela perda dói pela falta dói simplesmente
sensações de tapa na cara quando o que se tem do outro
são condicionais de um amor incondicional
e apostas altas ropendo espaços sagrados
vou tentar aprender a lidar com a ausência como uma leve saudade
e deixar de pensar "como você não soube cuidar da pessoa bacana que sou eu?"
pois que eu nunca soube também
nunca quis olhar no espelho e reconhecer minhas falhas

no trato como o amor e comigo
19.12.2006/16.04.2008

Incelência para o novo amor

nas paradas dos ônibus
exala qualquer coisa de segunda
a cidade daqui é longe, quão perto estou de estar muito só
toda força que agora chamo é pela lucidez exata para o próximo beijo
de bocas que assumem tristezas
e reconhecem não apenas no desespero a próxima alegria
ainda não sei dizer o que se passou comigo, com você, o seu adeus
a sua saliva que agora cospe sobre mim
e que antes era sorve-te de prazer
a minha dificuldade de reconhecer transformações
no paradoxo de acreditar em tudo para além de mim
não contente em estar por aqui
assim, olhos quentes olhos frios varrendo paisagens
realidades de imperfeições,
delírios de perfeições
tão só como os loucos, brincando de ver através de almas
meu corpo cimenta ilusões
pra quê?!
essa cidade me acena longe nesse meu tema recorrente.
11.12.2006

terça-feira, 15 de abril de 2008

autômatos

Autocensura


quando a luz vem intensa demonstrando fraquezas, eu sou quase uma hélice que me faz clarar
mas não acredito que haja só clarão
como ela um dia quiz me dizer
fugindo a qualquer custo da dor, fez sofrer muito mais
as ventanias tão intensas que essas brisas escondem
são como um estado de alerta
mas o alarme nunca vai soar
e quando saberemos que estamos em perigo?
não queira se esconder, há um claro-escuro
minta, mas minta só pra você
jogue tapetes sobre o chão
pinte as paisagens com flores de plástico
enfeite seu quarto com sorrisos senis
e tente dormir tranqüila
o prólogo diz: "paira no noite as incertezas velozes, vespas sobrevoando bocas, crianças correndo loucas"
aqui você não verá apenas o visto na tevê
aqui você não apenas o visto na tevê
boa noite, boa sorte

Rouca

já tentei muros, os absurdos
nada que tivesse sentido
soube fazer acalmar
já ouvi tim maia
já rasguei a cara
já caí no chão

segunda-feira, 14 de abril de 2008

gritando sem voz

acordo madrugada quente e penso em correr
mas o sonho é mais forte
meu corpo responde com lobotomia a suas próprias demandas
meu corpo descamba para ausências infinitas
e se redime cansado das ladeiras que fujo escapo de enfrentar
há dinheiro pregado em pequenos balões fugitivos por toda parte
martelos pesados doem mais na cabeça que no pé
os bem humorados sabem bem como fugir
o amargo do estômago não me deixa rir
meu humor amargo não me deixa escapar
das garras possessivas da Grande Águia do Tédio - a entidade maior
alguns loucos têm poor hobby os filhos
os loucos cuidam dos seus brinquedos como visgos
matar a maternidade paternidade pra melhor olhar a vida
sem essas casinhas de brinquedos tão familiares - tão dura doce prisão
leite infeliz que alimenta sofrimentos brancos
qualquer inocente quando preso torna-se vilão
a prisão vilaniza, pois ela pressupõem a posse da chave na mão de outrem
precisamos roubar as chaves
ou precisamos arrombar as grades
ou elaborar qualquer outro plano de fuga
coisas que fazem do prisioneiro um infrator de leis
ou prisioneiro mantem-se ou perseguido torna-se
da guilhotina e da prisão Julien de Sorel não se deixou escapar
era o vermelho e o negro
o corte e a ferida
quando consigo rir do sangue que escorre me sinto melhor
do resto, é só cansaço.

24.03.2004

tocar o sol pra aquecer meu corpo longe

pra mim só vale o conforto da sombra da árvore ou a violência do confronto corrosivo do asfalto na cara
vai pluma branca arrebata e bate a cara dessas meias palavras que estou tão farta. Farta do meio campo: metade corpo, metade máquina. carne moída é como máquina, produz dinheiro e produz triteza, produz bem estar e maldição. não vou mais recusar tocar o sol para aquecer meu corpo longe.
Quá, quá.
(Dias D´Avila, 05.07.2005)

sábado, 12 de abril de 2008

Old years

Não, eu não vou postar só porque é meu aniversário e tenho algo especial pra dizer
heuhuheuehuehehehuehuheuheuhu
Já postei (sic)

terça-feira, 8 de abril de 2008

fantasmas! belas companhias!

fantasmas! belas companhias!
doenças ou tiros, melhor, quiçá!
vamos brincar de roda, outra, talvez
esquizofrênicos estão vivos, melhor pra quem?
aceito drogas nas veias, na testa, pânicos e sustos, desde que sejam dados com luvas brancas
mais quá, foi minha mãe quem disse, e eu acatei, ora bolas
vejamos, vamos brincando
tenho irmãos tão longe
e seleciono pestes - mais uma vez
esse prazer me atrai, ou tanto faz
não concordo nem discordo, muito pelo contrário
quem já dizia?
choro, mesmo antes de estar rendida - choro rendida!
no meio de gente que só segue em frente, e nada mais!
anestésico perfeito, orvalho, flores para enfeitar rotinas
um macio leito repouso que não pergunta horas
e os fantasmas, fiéis companhias, alimentam a alma, e congelam o frio
maquinas de palavras tortinhas

Ponto final sem tempo

o vôo rasante para o abismo, visitou a ave preta
a árvore sem folhas repousava em suas asas
tijolos sobre tijolos
e cascalhos escorrendo eras pelas fendas da terra ...
...o sangue só pára no ponto final do tempo...

Fazenda Paraíso, 21.06.2003

terça-feira, 1 de abril de 2008

Paris, Texas


Cidade Vazia

Cidade Vazia I

Se isso tudo foge de mim
Agora não me preocupo em buscar
Sigo
Já me acostumei a ouvir promessas e acreditar
O meu corpo é só corpo
Mas disso vem todas as implicações
E inexatidões
As punições virão sempre - quase óbvias
Cortando a carne
Mas também é assim que me faço melhor
Mas não vou fazer da falta o meu excesso
Não vou consumir o excesso até a falta
Já não me encarrego mais do que não é meu
Burguesa?
Individualista?
Primata!
Já não tenho medo de assumir
A sua máxima vaidade é isso negar
Eu, sem medo da floresta e só
Sem medo de mim
Sigo
Sei que o destino das coisas foge
Não me assusto mais
(09.10.06)

Cidade Vazia II

Esqueço da chuva e saio por aí assim mesmo, sem guarda-chuva, sem proteção
Esqueço também das minhas vulnerabilidades - não são poucas
E caminho a esmo, c-o-n-f-o-r-t-a-v-e-l-m-e-n-t-e
Com essa palavras, lâminas lambem a carne
Ódio do meu ódio
Amor sem perdão
Sem convite para outros confortos
Árida, mas talvez nem isso
Menos marcante que o meu próprio conceito de mim mesma
Esquecida nos seus olhos confusos
Os meus erros marcados nos seus olhos confusos
(16.10.06)

Cidade Vazia III

A Cidade amanhece calma
Meu coração bate sossegado em um outro ritmo
Posso ir percebendo cada elemento que se encena ainda numa cidade de máscaras leves
Eu também estou mansa, sem nenhuma droga, a falta de sono me sublima
Eu passeio planando "barco ébrio", grito pra mim mesma:
"Esta cidade não vai me devorar".
É um povo pobre, que corre atrás de certidões e documentos
Que ocupa filas e não, postos
E traze crianças choronas calçadas em sapatos apertados e que mijam na rua e comem cachorros quentes salmonelas nas passarelas e se abrigam em marquises e em "sombrinhas" de alguns trocados.
Contrastam alguns poucos homens de negócios, talvez Pachecos ou Palhares, Badarós, os mesmos que me aguardam pra daqui a pouco eu tirar mais um número pra minha identificação.
(19.03.2008)

Cidade Vazia IV

Se eu fosse um asteróide
Lá de cima me veria
Me assustaria, apavoraria com a minha figura?
Andando em ruas estreitas duma cidade ensolarada e caótica
Tentando, tentando encontrar um caminho
E lá de cima, tão facilmente, o asteróide vê os meus caminhos possíveis com a descontração de quem resolve aqueles joguinhos do tipo " ajude o coelhinho chegar até a cenoura",
Ele, o asteróide, riria, se irritaria com tantas burrices cometidas por mim.
Ele "pensaria" alto como uma criança entusiasmada diante do vídeo game: "burra, não tá vendo que aí vacê bate a cara na parede"?
Mas eu não pararia, continuaria com a minha carne borracha a bater,e estender e encolher e entre brechas viver.
O asteróide se espatifaria e entre as brechas do meu caminho/vida e os verbos futuros e pretéritos se depositaria,, como quem entra na história e quer ajudar o personagem lhe prevenindo contra alguma iminente cilada.
A quem caberá julgar o melhor enredo, personagens?