quinta-feira, 28 de junho de 2012

memóide

montagem por invasaodoazul -  imagem do filme "the_hunchback_of_notre_dame (william dieterle, 1939); meme "sweet_jesus_face"
por invasaodoazul*










eu não quero rir nem compartilhar gravuras do breu de intensa luz branca caverna forçando um sorriso diante do medo de arriscar certeza da penúria ante a incapacidade de ser só amorte desertos crescem proliferam placebos verdades tal o eclesiastes autorizados a curtir promessas que nem mesmo fantasiaram não sou o mesmo que a rapariga óculos escuros velho venda no olho rapazinho estrábico cego pistola cão lágrima não sou um meme mármore atenuando o diferente efêmero engenharia duplipensar palavras condensadas fabricam dóceis consensos riso velho surpreso a novas febre-imagens espelho para si pai patrão policia o jogo mimesis monalisa do momento xerox ri melhor no espelhopseudocerteza ri muito demais e mesmo e mais e ainda romancequantidade reprodução superpotência de gárgulas escoadouros de gargantas ávidas replicantes memóides eufóricas estéticas anônimas comuns compartilhadas ganchos desconhecedores do fim







montagem por invasaodoazul - imagem do filme "the_hunchback_of_notre_dame (william dieterle, 1939); meme "sweet_jesus_face"



terça-feira, 26 de junho de 2012

por invasaodoazul
maiakóvski me fez ver a poesia visceral e intensamente. valeu! camarada, brother, irmão!

sexta-feira, 22 de junho de 2012


PRACUNTUM CRECK BUM



A PARANÓIA DISSEMINADA COMO PRAGA NO TELEFONE CELULAR

Todo mundo conectado
e feliz por infeliz estar

 

O CO2 na cara

O ônibus velho na descida da Contorno escarra
Meus olhos explodem lágrimas
Mas olho pro céu só para ocultá-las
E então vejo um prédio barroco no Comércio

     A Cidade Baixa
Baixa o desencanto em Salvador
Enquanto todos os santos estão loooonge, vixe!

Sacudo o corpo
E tento curar o sufoco
E o soco na feira das Sete Portas
Procuro a barraca das sete ervas
Para agüentar os sete dias
E escapar dos sete palmos
E conseguir as sete vidas
E ENCARAR O ardil QUE escapa pelo ladrão
Disfarçado no molejo pagão
Entra nas narinas como cânfora
Ou como urina nas esquinas do carnaval
Lança a âncora
Prende o laço
E divide a população entre os espertos e os palhaços
Premiando quem está disposto a ganhar com o bagaço
Com o engano, a chantagem e a traição 

Tiros para o alto

Mãos ao alto  
Eu me rendo ao assalto
Arrastam minha cara no asfalto
E logo logo sou forçada a confessar tudo
Torturados, mas somos tão alegres
Desdentados, mas somos tão alegres
Desempregados, mas somos tão alegres
Massacrados, mas somos tão alegres
Infantilizados, mas somos tão alegres
Folclorizados, mas somos tão alegres
Assassinados, mas somos tão alegres
A Bahia é linda
É tudo tão etéreo
Ou não
Agora os tambores
Abafam os tiros
Nas costas do menino

gardênia dultra

terça-feira, 19 de junho de 2012

Presentificando um futuro no deserto, uma cor fala por multicores amparados no calor dos que se aquecem no romance alheio. Mantras, ecos, preces fazem uníssono pois planeiam sobre desesperos um lugarzinho pra si, agora bem mais eficientes em seus refrões. Adiando no corpo a dor, prometem pra si um paraíso vindouro. Majestade: não haverá miséria alguma, acreditam todos, e nem mesmo as crianças veem o rei nu. Florestas crescerão com palhaços em seus arcos dourados e todos compraremos bem barato da china as tais crenças no conforto - tudo irá se ajeitar! Já disseminamos pelas redes, todos curtiram, todos seguiram. Aqui só há lugar para otimistas, vejam os outros, com tão poucos amigos, tão antigos. Já garantimos nas baías um diálogo bonito, e por detrás de um fuzil há um homem com intenção de paz. Há evolução, há desenvolvimento, nós definimos o tema e, então, no diálogo todo mundo se entende. Vamos vencer! A todo abarcaremos, queremos, poderemos, sempre aquecidos pelos olhos crédulos que se aquecem com o romance alheio. Acabaremos com as doenças, e, quem sabe, com o corpo. Um futuro, um futuro.  


        

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fechando os olhos ao som de fuzis


A política de drogas brasileira segue proibicionista. Isso significa que mantém as bases repressivas, moralistas e seletivas contra determinados segmentos da sociedade (o que denota o corte racista e higienista que marca o proibicionismo

Thiago Rodrigues - professor adjunto no Departamento de Estudos Estratégicos e Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense

Quando escopetas, pistolas automáticas e cassetetes estão violenta e decididamente voltados para sua cara, ainda que você saiba todos os instrumentos legais que lhe protegem, o silêncio vem como resultado do medo, da impotência e de uma revolta confusa.
Casa de periferia, ali se ajeitam em dois ou três cômodos, que servem simultaneamente como quarto, sala, cozinha e banheiro, um grupo de jovens - pedreiros, empregadas domésticas, desempregados ou profissionais de serviços precários, insalubres, inseguros, mal pagos. Os blocos estão à mostra, sem reboco, portas e janelas existem por uma questão quase que simbólica, pois não oferecem algum tipo de privacidade ou segurança. O ambiente é calorento e uma ansiedade paira no ar potencializando um desconforto constante.
É uma tarde de um dia útil qualquer. Pouco importa, o cenário se repete. Pelas redondezas mercadinhos, igrejas de várias congregações, lojas de material de construção, botecos, mototaxistas, crianças correndo, homens embriagados, mães, e os cuidadores da vida alheia. Nenhuma praça. Nenhum lazer gratuito e de qualidade à vista. Atividades artísticas e culturais?! O que é isso? No ar ouve-se uma música que vários acompanham efusivamente: "(...) quem nunca namorou, quem nunca fez amor, no carro, no carro, tomou umas e outras e deu uma fugidinha, no carro, no carro (...) carro parado com vidro embaçado, cuidado, cuidado, é motel disfarçado". Ainda que carro, motel, e "fugidinha" sejam significantes com significados difusos para a maioria.
Em um sofá rasgado e sujo na "sala", um grupo compartilha o mal estar da fissura, da abstinência - os cinco ou 10 contos que aparecem com muito custo, desaparecem rapidinho com uma droga "miada e fraca" (sic), mas que continuam desejando por ser a única disponível na área. Reclamam que nem mesmo tem um goró (cachaça) ou uma pacaia (fumo artesanal) para "destilar". Conversando um pouco mais, descobrem-se as mágoas profundas de cada um ali. De repente, chegam um ou outro, com os tais cinco ou 10 contos que conquistaram em alguma diária, biscate ou reciclagem, e vão ali por não terem um espaço melhor para usarem a droga. Inevitável, o entra e sai são constantes. A vizinhança está ligada. A vizinhança vigia, controla, delata, pune. 
Na cabeça de muitos, aquele contexto não se trata de um grupo tentando algum escapismo frente a uma situação agressiva, para o senso comum são sub-cidadãos que justificam aprioristicamente qualquer ato que infrinja até mesmo as garantias constitucionais elementares da sociedade burguesa.
Não há armas, nem grande quantidade de droga. Mas por desinformação, questões de fundo psíquico ou incapacidade de diálogo, qualquer motivo fútil dá origem a bate-bocas e até mesmo a agressões físicas. Na própria condição que trazem de incomunicabilidade, divergências sempre resvalam de pronto para uma agressão verbal expressa por um vocabulário escasso e repetitivo. A gritaria, então, extrapola a porta e a janela franzinas. A vizinhança está a cada momento mais atenta como quem espera pelo grande desfecho de um filme de terror. A vizinhança já conhece bem o perfil desses personagens - eles alimentam o café da manhã, o almoço e o jantar de noticiosos em rádios, TVs e jornais impressos - garantem uma audiência sedenta pelo linchamento moral público dos que de uma forma ou de outra ficam de fora do espólio de séculos da pilhagem na terra brasilis.
Demorou! Após desferir um chute na porta, entra no cubículo o comandante da operação de arma em punho como quem está a atuar ao lado de Arnold Schwarzenegger. Com ele, um séquito de cerca de três homens fortemente armados. Um rapaz de seus 28 anos, ajudante de pedreiro e de origem camponesa, é o mais visível no dispositivo cênico do tal sofá, é, coincidentemente (?), o mais franzino e de pele mais intensamente negra. Após ouvir o berro "cadê a droga, cadê as armas?", leva no peitoral vários sopapos de um soldado aparentando medir 2 metros e físico de lutador de jiu-jítsu, que fez questão de deixar bem claro que não estava ali para ouvir respostas ou explicações. A cada tentativa de identificar-se, de demonstrar laços familiares ou outros laços sociais, o policial irritava-se mais e mais, os socos no peitoral do rapaz usuário de droga tornavam-se mais e mais agressivos. As falas tentando colocar-se como portador de alguma identidade e pertencimento social provocavam na tropa rompantes tais como: "você não é nada", "você é um verme", "não cite o nome da sua mãe", "vagabundo", "cala a boca" e lá iam mais sopapos. 
Ato contínuo, o comandante adentra o que seria o quarto do casal - na verdade um espaço que apenas identificava de forma ainda mais intensa a vida caótica e desestruturada dos moradores, pois era uma mistura de depósito de roupas sujas, de revistas velhas, garrafas plásticas vazias, restos de comida, bitucas de cigarro, cachimbos apropriados ao uso do crack, e outras coisas que sob um estado de espírito acuado pela arbitrariedade policial não se é capaz de perceber. O comandante atuava como se estivesse numa grande operação à captura de algum capo di tutti i capi, de algum Matteo Messina Denaro da máfia siciliana, um grande chefão, um super narcotraficante. O que havia realmente eram resquícios de consumo droga - sobras da substância e cachimbos - nada que se configurasse como tráfico de drogas, e um grupo de jovens periféricos acuados.   
O universo que cerca o usuário de crack estrutura-se quase que completamente nas sobras, nos restos, no que ficou de fora e retorna a algum tipo de cadeia produtiva de forma perversa e violenta. O próprio significante que nomeia a substância é uma onomatopeia referente à ruptura, quebra, crack - alusão ao som produzido quando a droga é queimada – curiosamente também usado para referir-se a momentos agudos de crise econômica. Grande metáfora para um cenário de desagregação social. A origem da droga advem da forma impura da cocaína. Os utensílios que precariamente funcionam como cachimbo são, não raro, retirados de depósitos de lixo - latas de alumínio de cerveja ou refrigerante, copos plásticos de água mineral, válvulas de aparelhos eletrônicos, lâmpadas, canetas, garrafas plásticas, ou quaisquer outros objetos encontrados pelas ruas que possam adaptar-se à forma de cachimbo, muitas vezes compostos por substâncias extremamente nocivas à saúde - como o alumínio ou até mesmo metais pesados encontrados nas válvulas retiradas de aparelhos eletrônicos. O veículo para a combustão utilizado nos cachimbos da pedra é a cinza do cigarro. Restos, restos... 
Por conta de suas características socioeconômicas e culturais, por tratar-se, em tese, de uma droga barata, relegada na grande maioria dos casos ao lumpemproletariado, o crack não traz a ritualística e glamour que cercam outras drogas largamente incorporadas e consumidas pelas classes média e alta. Quem desconhece o largo consumo de maconha nas universidades mundo a fora? Quem desconhece as festinhas do jet set regadas a cocaína? Quantas dessas pessoas do high society já tiveram as casas invadidas sem mandado de busca e apreensão? Quantas já sofreram calúnia, injúria e difamação em programas jornalísticos comandados por "profissionais" que ignoram os princípios éticos elementares do ofício? Que tratam a ética, o respeito à dignidade humana, o princípio da presunção de inocência com um tom típico dos que se locupletam com a barbárie e com a miséria, arraigados que estão ao que há de mais cruel na história desse país de capitães do mato e navios negreiros?
O usuário de crack é o mais penalizado nesse cenário de patologia social que envolve um setor estruturado, globalizado e com altas ramificações financeiras que sequer temos conhecimento devido à economia de mercado extremamente volátil,  impossível de ser regulamentada pelo estado.  A ONU estima - pois não há como definir índices precisos - que o negócio da droga movimenta mais de 500 bilhões de dólares ao ano, faturamento superior ao comércio internacional de petróleo, perdendo apenas para o tráfico de armas (Link para Relatório Mundial sobre Drogas 2011, produzido pela ONU).
Ainda assim, em muitas cidades do Brasil, o estado continua terceirizando sua "política" para setores que tratam o assunto de forma absurdamente apartada das chamadas políticas de inclusão, delegando para instâncias que pregam a execução sumária desses jovens - pobres e quase sempre pretos. Principalmente nas pequenas cidades do Nordeste, onde vemos segmentos da segurança pública desconhecer estratégias que vem mostrando-se mais efetivas que a tal "guerra às drogas" - a exemplo dos programas de redução de danos, a diferenciação clara entre usuários e traficantes, medidas socioeducativas, acolhimento em grupos orientados por equipes multidisciplinares formadas por psicólogos, psiquiatras, antropólogos, sociólogos e demais esferas de saúde e humanas.
Até quando as cercas eletrificadas postas nos muros das residências da classe média garantirão o conforto para que possamos dormir tranquilos professando uma retórica cristã ou social democrata que tanto se refere à cidadania? Até quando porteiros eletrônicos, grades, carros com seus vidros cuidadosamente fechados, empresas de segurança patrimonial garantirão uma falsa sensação de segurança?
Zonas segregadas, verdadeiros guetos, espalham-se por esse país a fora, locais onde a arbitrariedade policial deixa bem claro que ali as leis são outras, onde o estado e a sociedade destilam tranquilamente seu descaso e abandono à vida de milhares de jovens que já nascem com o destino selado de serem linchados e queimados vivos sem direito a julgamento, sob aplausos da população ignorante que vibra ao ver sangue, sob os holofotes do justiçamento da mídia. Tudo com a tolerância da sociedade culturalmente acostumada a prescrever os dignos e os indignos - que o digam os índios, os negros, os gays, os pobres, os nordestinos, os favelados, os loucos, os leprosos, os rebeldes... Os "nóia", "sacizeiros" e outras denominações que levam o usuário de crack são apenas mais uma categoria na nossa imensa lista de uma perversa dívida social que intensifica o medo, a insegurança, a violência.