sexta-feira, 29 de junho de 2007

Eufemismos para o Brasil

Essa overdose de informação que agora dispomos é geradora de muitas tensões e sofrimento. Como escolher o que ler, o que ouvir, o que gostar? Transformando informação em conhecimento... às vezes, penso que se trata apenas de quimeras daquelas cartas de intenção de parâmetros curriculares. "Ah, vamos promover o planejamento participativo dos aprendentes".
E lá se vão mais diretrizes a serem seguidas.

É engraçado como agora as coisas passam a ser outras coisas apenas pela troca de seus nomes. Aluno virou aprendente, professor, agora é facilitador, trabalhador, peão mesmo, agora é colaborador. Só o que ainda não mudou o nome foi o dinheiro, que mesmo tendo suas inúmeras variantes - cartão de crédito, investimento - continua sendo dinheiro, money, dim dim, grana, bufunfa, ....

Incentivar que os países pobres passassem a ter uma rotulagem mais atraente, gerou uma mudança de fato?

O Brasil passou a ser "emergente". É, pode ser mesmo, mais que nunca suas mazelas estão emergindo. Pelo menos podemos nos confortar em saber que a guerra civil em que sempre vivemos saiu do anonimato, passou a ser declarada, ganhou as manchetes. Agora já podemos em nos distrair tentando inventar um grande eufemismo para ela, nós, colaboradores.

Eu continuo às voltas tentando escolher direito o que ler, o que ouvir, o que pensar

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Declaro agora uma intenção de amor

Meu coração é um barco ébrio. Não é um Nautilus. Quem um dia irá me validar? Se os meus amores são efêmeros , são amortes, e agora descubro uma Claris . Estaria eu tão distante do presente? É o que me foge, o presente. E eu minto. E você me diz que somente o profundo lhe arrebatará a pele. Sou eu a pele. Ainda que escondida, tenho me esforçado bastante. A sua boca, os seus olhos, tortos, são pra mim o escondido óbvio. A quem cabe vestir esse casaco de vison? São os meus sentidos. Declaro agora uma intenção de amor.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Ainda sob efeito de G.H.

Goya
Os objetos inanimados também têm vida.


Eu fiquei horas diante daqueles refúgios da casa que não ousamos encarar. Ampliando como um microscópio de varredura a superestrutura não vista do prédio - ferros retorcidos, pedaços de ossos e peles de operários que estavam ali, entre o que eu achava que era e o invólucro. A casa me causava tanto espanto quanto a barata a GH. Canos escorrendo água e cabelos soltos pelo chão.

"É que um mundo todo vivo tem a força de um inferno".


E assim, imagino os loucos com superpoderes auditivos visuais, táteis, olfativos, todos os sentidos ampliados. Não, eu não suportaria isso por muito tempo, mesmo sentido, às vezes, o latejar intenso de coisas - mortas ou vivas - , decreto por instantes a minha morte, só por defesa, só pra estar viva.


Eu acredito nos loucos, realmente eles são deuses, eles vêem muito mais que eu, sentem mais, ouvem mais, e não barram, são como vidro translúcido. Tudo passa. Os carros, as construções, o bebê chorando, os ônibus, as ondas do mar, a serra elétrica, a usina nuclear, o avião, o sexo drogas na esquina, a esquina, as crianças da esquina, o nascer, a dor, o riso, sabemos que tudo isso existe, mas sabermos disso tudo de uma só vez é alucinação. Não quero.


Bendita surdez, bendita miopia, bendita cegueira. Bendita estupidez.

Sob efeito de G.H.


Meu coração derretido num milk shake de amora

Seu copo branco, seu canudo agora são meu universo

Espero só a próxima sessão de cinema para eu terminar junto com ela

Os objetos inanimados também têm vida

Estranhos e íntimos

imagem
Aquele angústia tomou conta de nós, mesmo.
Como nossa grande aliada, ela vasculha a casa, e espanta qualquer outro fantasma que por ventura venha tomar o seu espaço. Ela é espaçosa, grandiosa no seu terror, nos consome como qualquer outra droga, vai, vai, vai, vai fazendo a cama nos nossos quartos. Você já não diz não. Eu apenas olho como se fosse inevitável, eu lhe dou a mão, mas ela está gélida, pois o calafrio vem nefasto. A sua pupila reflete o teto, ele é cinza e nada, nem a goteira, faz com que você se proteja, nos proteja, nos salve.
Você tá branco, o suor escorre e se junta ao corpo líquido da casa ... plic, plic, plic
Por um momento, olho e lhe vejo sem mãos — mas era só um símbolo, um símbolo para a nosso inércia. Que diferença faria se você estivesse amarrado? Você parece ler os meus pensamentos, e quer se recompor, não se mostrar tão frágil, então perde da pupila aquele teto chapado, vira-se e com grande sacrifício passa a ter na retina a janela aberta, como se a mim quisesse provar. Mas nem a mais doce lembrança da sua infância, nem aquele seu prato preferido, nenhum pequeno prazer, nem a mediocridade, nem o lusco-fusco ... lhe faria agora acreditar, e eu ...
Piazzolla faz a festa com um bandoneón cor de prata envelhecida
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terça-feira, 12 de junho de 2007

Dia dos Namorados




Eles iam andando de mãos dadas ao longo do Muro em Chiapas, México.


O ônibus lotado, as flores amarrotadas, a Estação Pirajá às seis, as flores saem de cena e dão lugar a uma outra poesia.


Sairam como loucos desvairados iam juntos na quebrada, cumplices, tomaram cicuta juntos.


Ele disse à mãe, o outro disse ao pai. Tinham combinado, iam agora namorar na frente de todos. Neste dia ficaram trancados, aquele mundo era pequeno demais.