terça-feira, 19 de junho de 2007

Ainda sob efeito de G.H.

Goya
Os objetos inanimados também têm vida.


Eu fiquei horas diante daqueles refúgios da casa que não ousamos encarar. Ampliando como um microscópio de varredura a superestrutura não vista do prédio - ferros retorcidos, pedaços de ossos e peles de operários que estavam ali, entre o que eu achava que era e o invólucro. A casa me causava tanto espanto quanto a barata a GH. Canos escorrendo água e cabelos soltos pelo chão.

"É que um mundo todo vivo tem a força de um inferno".


E assim, imagino os loucos com superpoderes auditivos visuais, táteis, olfativos, todos os sentidos ampliados. Não, eu não suportaria isso por muito tempo, mesmo sentido, às vezes, o latejar intenso de coisas - mortas ou vivas - , decreto por instantes a minha morte, só por defesa, só pra estar viva.


Eu acredito nos loucos, realmente eles são deuses, eles vêem muito mais que eu, sentem mais, ouvem mais, e não barram, são como vidro translúcido. Tudo passa. Os carros, as construções, o bebê chorando, os ônibus, as ondas do mar, a serra elétrica, a usina nuclear, o avião, o sexo drogas na esquina, a esquina, as crianças da esquina, o nascer, a dor, o riso, sabemos que tudo isso existe, mas sabermos disso tudo de uma só vez é alucinação. Não quero.


Bendita surdez, bendita miopia, bendita cegueira. Bendita estupidez.

Um comentário:

Anônimo disse...

De arrepiar.

a parte da casa com vida é...