terça-feira, 19 de junho de 2007

Estranhos e íntimos

imagem
Aquele angústia tomou conta de nós, mesmo.
Como nossa grande aliada, ela vasculha a casa, e espanta qualquer outro fantasma que por ventura venha tomar o seu espaço. Ela é espaçosa, grandiosa no seu terror, nos consome como qualquer outra droga, vai, vai, vai, vai fazendo a cama nos nossos quartos. Você já não diz não. Eu apenas olho como se fosse inevitável, eu lhe dou a mão, mas ela está gélida, pois o calafrio vem nefasto. A sua pupila reflete o teto, ele é cinza e nada, nem a goteira, faz com que você se proteja, nos proteja, nos salve.
Você tá branco, o suor escorre e se junta ao corpo líquido da casa ... plic, plic, plic
Por um momento, olho e lhe vejo sem mãos — mas era só um símbolo, um símbolo para a nosso inércia. Que diferença faria se você estivesse amarrado? Você parece ler os meus pensamentos, e quer se recompor, não se mostrar tão frágil, então perde da pupila aquele teto chapado, vira-se e com grande sacrifício passa a ter na retina a janela aberta, como se a mim quisesse provar. Mas nem a mais doce lembrança da sua infância, nem aquele seu prato preferido, nenhum pequeno prazer, nem a mediocridade, nem o lusco-fusco ... lhe faria agora acreditar, e eu ...
Piazzolla faz a festa com um bandoneón cor de prata envelhecida
.

Nenhum comentário: