segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

a amplidão do som na escuridão noturna
tantos mundos, e você aí, esperando aparar corações
na verticalidade da minha vertigem me precipito em imagem
radicalizo emoções
binóculo do teu espelho na lentidão da minha maneira de criar a ti - soy loco por
maravilhas, café e pão ao meu jeito de possibilitar dimensões
em tempo de chegar e partir
como a primavera e o verão
como o amanhecer e as asas da coruja
como as limitações do agora
e as promessas de futuro

serei breve
a ponto de sacrificar paladares
a ponto de me deixar sumir
a ponto de
o dedo em riste com seus imperativos
sempre querendo interferir em mapas colados em papéis : PAREDE
não tentarei enfins
cansada de tantos bastas ao pensamento
os meus rios querem marear
cantos, cantos, o meu laralará
o meu lá
lar onde cultivo impossibilidades
corpos
extensões
cronos
desejos de vir - a defesa da alma às máquinas de morte
corte de prazer
laboratório de alquimias perversas
estátuas
gesso de eras por tiranos
teus sonhos precisam viver

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

que preocupação

dois homens sentados na estação de transbordo, compenetrados, tensos e preocupados: falavam de um terceiro que, segundo eles, merecidamente tinha levado a pior. mal caráter, fofoqueiro, o destino dele deveria ser a sarjeta. intrigada e curiosa me liguei na conversa, pensei: "puxa, como eles estão preocupados, como aparentam que alguma situação grave aconteceu". a conversa foi e o esperado foi revelado - o assunto era sobre o último eliminado do big brother brasil.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

andar às margens dos teus rios, salvador

andar às margens dos teus rios, salvador. sentindo o agressivo odor das tuas águas mortas. plásticos devoram peixes, enquanto meninos pirateiam sexo, mentiras, e outras histórias mal contados no intervalo entre tuas passarelas que separam um lugar do outro. o grito de propaganda desce pela guela abaixo daqueles que anunciam pregões dos produtos da china. a tua globalização chegou assim, no teu arrocha àqueles que tiveram que aprender a manipular a tecnologia na tora; na tua negação àqueles que aprenderam a produzir com a reprodução, a cópia da tua esmola escolar, do desprezo elegante dos teus intelectuais aos que estão fora dos curriculos lattes. andar às margens dos teus rios, salvador, é sufocar no teu calor e ter uma sede insaciável. é ver nos viadutos clarões que estalam no crack da tua mitologia - seja católica ou pagã. andar às margens do teu rio, salvador, é navegar pelas tuas mentiras que insistem em esconder as tuas dores.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

satisfação?

O turbilhão de fatos que atropelam a gente. Vivemos a ditadura dos fatos. Possibilidades de reinvenção do cotidiano, de criação de outras formas de ver o mundo são terrivelmente reprimidas. Pierri Bourdieu discorre sobre isso em o "Poder Simbólico", uma elite tem a possibilidade de criar e fazer valer formas de significação para o mundo. Não que não tenhamos a nossa própria subjetividade, mas desde Aristóteles sabia-se que o ser humano tende sempre a mimesis, à cópia. Com a Sociedade da Informação, essa não autenticidade, essa necessidade de ser identificado com algo pré-existente é reforçada, estimulada, incentivada e, o que é pior, valorizada. Nada do que eu estou falando é novo, mas isso não tira a legitimidade do que eu digo, pois me sinto assolada por essa avalanche dos fatos, assim escrevo, ao menos pra fazer valer a minha particular insatisfação.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ponto de fuga

O corpo brilhava com suas vísceras saudando pontas de lâminas. Tão caudaloso era o rio e suas torrentes de sangue. Estarei longe, mas atenta aos seus desatinos. Patética em frente da TV, alimento olhos sedentos de tragédias. O corpo negado. Nada além. O massacre do agora, tudo agora, e os sonhos não fazem mais sentido, pois no futuro não há sentido. As máculas dos anos devem ser devidamente maquiadas, meu amor, negamos todo dia os efeitos do tempo. Alimentando de exageros as máquinas que nos fazem morrer. AGORA, AGORA, AGORA. Nem um tempo a mais para saudarmos outras dores, nem um tempo a mais para divertimos outros corpos além dos nossos, além da dor. Agora, o menino já cresceu. Agora, a fila anda e tudo te atropela. Agora, estarei pronta para as minhas frustrações. Agora, não há mais trigo para o devir. Sorrio sedenta por um ponto de fuga.