quarta-feira, 18 de março de 2009

invisíveis




a fumaça levantou, deixando pra trás um rastro de sonho entorpecido de uma metrópole torta desviante de acidentes recorrentes de viadutos e seus ferros retorcidos. a fumaça levantou no quarto kitsch da lona vermelha da cama do motel barato e urros mecânicos de xoxotas televisivas. A fumaça levantou enquanto eu lembrei que não estava presente nos grandes marcos do século XX e que provavelmente não estarei nos do século XXI, e que por isso mesmo faço dessas ruas torpes o palco das minhas poucas glórias, e tento delas extrair todo o viço. a fumaça levantou, e eu acabei de seguir, e você nem sabe o meu nome e nem saberá. A fumaça é efêmera, mas ela se renova todo dia, e se levanta ...

quinta-feira, 12 de março de 2009

ANJO FREUDIANO

ÀS NOSSAS CRIANÇAS QUE TÃO BEM CUIDAMOS, COM YOGURTES E LEITES PASTEURIZADOS, URSINHOS, E OUTRAS CHANTAGENS. TÃO BEM SERVEM À NOSSA FOME QUE URRA, À NOSSA DERCARGA DE SURTOS, AGORA PÁLIDAS. AS CRIANÇAS, NADA ANJOS, SALSICHAS DESSE NOSSO MAC DOG AZEDO DE CINISMO E TARAS. AS CRIANÇAS QUE POMOS NO ALTAR E JOGAMOS NA SARJETA. AS CRIANÇAS MONSTROS, AS CRIANÇAS PÁRIAS, AS CRIANÇAS PÂNTANOS, AS CRIANÇAS LOUCAS. AS CRIANÇAS QUE SÓ TEM CARAS NAS ESTATÍSTICAS - DE CRIMES, DE OBESIDADES, DE LIQUIDAÇÕES DE SHOPPINGS, DE NÚMEROS DE AUDIÊNCIAS.

E QUE AGORA ZELAMOS NAS CHACINAS, NAS FARRAS DE BOIS PEDÓFILOS, E EM TODOS AS CONTAGENS QUE NUNCA CHEGAREMOS A DAR CONTA, TAL COMO O SEGREDO DO MENINO CHORANDO APAVORADO BEM BAIXINHO NO ORFANATO DE PADRES.

2008/12.03.2009

CARNÊS, CLICHÊS E PROMESSAS DE TANTAS CAVERNAS

Ela vai tentando ser feliz sem creme de pentear, tendo como espelho a mãe e seus carnês - baús televisivos. De brindes? Jogos e panelas de cozinhar emoções, deformando ruas em varizes, sonhos em deixas de caridades. Os sapatos gastos não servem como testamento, eles escondem passos ausentes, gestos ausentes, a felicidade principalmente. E eu ali, contemplativa, e não menos miserável, repito as crônicas de uma cidade provida por tubos mágicos, ainda. (31.03.08)
Eu pensei que o Bau da Felicidade, aquela coisa lá do Sílvio Santos, fosse uma quimera. Mas um dia eu vi, como quem vê um OVNI, uma mulher com a filha entrarem no mesmo ônibus que eu com uma sacola enorme com o emblema do "BAU". Elas tinham uma pele bem branca, quase vermelha. E estavam super mal vestidas. O primeiro pensamento que tive foi: "- as campanhas de S. S. são mais eficientes pra essa galera (a ninguenzada de Da Matta) que a publicidade de protetor solar". As criaturas tinham a pele do rosto visivelmente detonadas pelo excesso de sol. De resto, baixei a cabeça, e já nem sabia mesmo como estavam os meus cabelos e se o meu rosto ardia.

terça-feira, 10 de março de 2009

JAVALIS E CORDEIROS

Fiquei avistando o meu corpo daqui
Partindo junto com os javalis em disparadas
Arrastando cordas e cordeiros
Ao final, só seus corpos estariam a salvo
E alguns bobos ainda acreditavam se tratar de um lugar alegre