quinta-feira, 12 de março de 2009

CARNÊS, CLICHÊS E PROMESSAS DE TANTAS CAVERNAS

Ela vai tentando ser feliz sem creme de pentear, tendo como espelho a mãe e seus carnês - baús televisivos. De brindes? Jogos e panelas de cozinhar emoções, deformando ruas em varizes, sonhos em deixas de caridades. Os sapatos gastos não servem como testamento, eles escondem passos ausentes, gestos ausentes, a felicidade principalmente. E eu ali, contemplativa, e não menos miserável, repito as crônicas de uma cidade provida por tubos mágicos, ainda. (31.03.08)
Eu pensei que o Bau da Felicidade, aquela coisa lá do Sílvio Santos, fosse uma quimera. Mas um dia eu vi, como quem vê um OVNI, uma mulher com a filha entrarem no mesmo ônibus que eu com uma sacola enorme com o emblema do "BAU". Elas tinham uma pele bem branca, quase vermelha. E estavam super mal vestidas. O primeiro pensamento que tive foi: "- as campanhas de S. S. são mais eficientes pra essa galera (a ninguenzada de Da Matta) que a publicidade de protetor solar". As criaturas tinham a pele do rosto visivelmente detonadas pelo excesso de sol. De resto, baixei a cabeça, e já nem sabia mesmo como estavam os meus cabelos e se o meu rosto ardia.

2 comentários:

Crítico disse...

Indescritível essa viagem de ácido sociológico:

"panelas de cozinhar emoções, deformando ruas em varizes, sonhos em deixas de caridades."

é envolvente e conciso, e muito bem resolvido. Parabéns: você tem talento genuíno.

Invasão do Azul disse...

E eu adorei a exoressão: "ácido sociológico". Eu exercito esses pensamentos como um jogo, não tem aquela pretensão de convencer, é um puro jogo. É o que eu chamo de Ficcção hiperrealista. Porra Carnê do Bau! Fala Sério! É surreal eu pensei que fosse lenda urbana.