Goya
Os objetos inanimados também têm vida.
Eu fiquei horas diante daqueles refúgios da casa que não ousamos encarar. Ampliando como um microscópio de varredura a superestrutura não vista do prédio - ferros retorcidos, pedaços de ossos e peles de operários que estavam ali, entre o que eu achava que era e o invólucro. A casa me causava tanto espanto quanto a barata a GH. Canos escorrendo água e cabelos soltos pelo chão.
"É que um mundo todo vivo tem a força de um inferno".
E assim, imagino os loucos com superpoderes auditivos visuais, táteis, olfativos, todos os sentidos ampliados. Não, eu não suportaria isso por muito tempo, mesmo sentido, às vezes, o latejar intenso de coisas - mortas ou vivas - , decreto por instantes a minha morte, só por defesa, só pra estar viva.
Eu acredito nos loucos, realmente eles são deuses, eles vêem muito mais que eu, sentem mais, ouvem mais, e não barram, são como vidro translúcido. Tudo passa. Os carros, as construções, o bebê chorando, os ônibus, as ondas do mar, a serra elétrica, a usina nuclear, o avião, o sexo drogas na esquina, a esquina, as crianças da esquina, o nascer, a dor, o riso, sabemos que tudo isso existe, mas sabermos disso tudo de uma só vez é alucinação. Não quero.
Bendita surdez, bendita miopia, bendita cegueira. Bendita estupidez.
Um comentário:
De arrepiar.
a parte da casa com vida é...
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