terça-feira, 1 de abril de 2008

Cidade Vazia

Cidade Vazia I

Se isso tudo foge de mim
Agora não me preocupo em buscar
Sigo
Já me acostumei a ouvir promessas e acreditar
O meu corpo é só corpo
Mas disso vem todas as implicações
E inexatidões
As punições virão sempre - quase óbvias
Cortando a carne
Mas também é assim que me faço melhor
Mas não vou fazer da falta o meu excesso
Não vou consumir o excesso até a falta
Já não me encarrego mais do que não é meu
Burguesa?
Individualista?
Primata!
Já não tenho medo de assumir
A sua máxima vaidade é isso negar
Eu, sem medo da floresta e só
Sem medo de mim
Sigo
Sei que o destino das coisas foge
Não me assusto mais
(09.10.06)

Cidade Vazia II

Esqueço da chuva e saio por aí assim mesmo, sem guarda-chuva, sem proteção
Esqueço também das minhas vulnerabilidades - não são poucas
E caminho a esmo, c-o-n-f-o-r-t-a-v-e-l-m-e-n-t-e
Com essa palavras, lâminas lambem a carne
Ódio do meu ódio
Amor sem perdão
Sem convite para outros confortos
Árida, mas talvez nem isso
Menos marcante que o meu próprio conceito de mim mesma
Esquecida nos seus olhos confusos
Os meus erros marcados nos seus olhos confusos
(16.10.06)

Cidade Vazia III

A Cidade amanhece calma
Meu coração bate sossegado em um outro ritmo
Posso ir percebendo cada elemento que se encena ainda numa cidade de máscaras leves
Eu também estou mansa, sem nenhuma droga, a falta de sono me sublima
Eu passeio planando "barco ébrio", grito pra mim mesma:
"Esta cidade não vai me devorar".
É um povo pobre, que corre atrás de certidões e documentos
Que ocupa filas e não, postos
E traze crianças choronas calçadas em sapatos apertados e que mijam na rua e comem cachorros quentes salmonelas nas passarelas e se abrigam em marquises e em "sombrinhas" de alguns trocados.
Contrastam alguns poucos homens de negócios, talvez Pachecos ou Palhares, Badarós, os mesmos que me aguardam pra daqui a pouco eu tirar mais um número pra minha identificação.
(19.03.2008)

Cidade Vazia IV

Se eu fosse um asteróide
Lá de cima me veria
Me assustaria, apavoraria com a minha figura?
Andando em ruas estreitas duma cidade ensolarada e caótica
Tentando, tentando encontrar um caminho
E lá de cima, tão facilmente, o asteróide vê os meus caminhos possíveis com a descontração de quem resolve aqueles joguinhos do tipo " ajude o coelhinho chegar até a cenoura",
Ele, o asteróide, riria, se irritaria com tantas burrices cometidas por mim.
Ele "pensaria" alto como uma criança entusiasmada diante do vídeo game: "burra, não tá vendo que aí vacê bate a cara na parede"?
Mas eu não pararia, continuaria com a minha carne borracha a bater,e estender e encolher e entre brechas viver.
O asteróide se espatifaria e entre as brechas do meu caminho/vida e os verbos futuros e pretéritos se depositaria,, como quem entra na história e quer ajudar o personagem lhe prevenindo contra alguma iminente cilada.
A quem caberá julgar o melhor enredo, personagens?

Um comentário:

Ernesto Ribeiro disse...

iiiiiiiiiiisso sim é poesia solta, divagando briilhantemente sobre essa nossa situação aqui na terra esquecida por Deus... mas Deus é só um prostituído travesti aidético.