terça-feira, 3 de julho de 2007

Automatismo Psíquico



Automatismo Psíquico, Surto ou a Explêndida Lógica dos Loucos?



Quando comecei a ler a Paixão Segundo GH ¹pensei de cara "isso é automatismo psíquico puro". Aí fui como quem quer mais do mesmo, e descobri uma quase obsessiva lógica, onde o início deve repetir exatamente o final.


A personagem, de Clarice Lispector, debate-se consigo mesma, e faz da sua casa um outro grande estranho com o qual tem que se confrontar. A casa não como aconchego, a concha do ego, mas como perdição, como o inóspito, o novo assustador inevitável de todos os dias. E o mais terrível, que ali, dentro do que deveria ser a concha, o caracol.


E o que Claris faz para ilustrar esse assombramento com o novo, com o descobrimento? Qual a alegoria, a metáfora? Ela transforma os seus labirintos internos em espaços da casa:



Ontem de manhã - quando saí da sala para o quarto da
empregada - nada me fazia supor que eu estava a um passo da descoberta de um
império. A um passo de mim
(p.19)


Naquela manhã, antes
de
entrar no quarto, o que eu era? (p.19)


O apartamento me reflete (...) Como eu o apartamento tem penumbras
e luzes úmidas,
nada aqui é brusco; um aposento precede e promete o outro. Da
minha sala
de
jantar eu via as misturas de sombras que preludiavam o living.
(...) minha
casa é uma criação apenas artística. (p.26)


Olhei a área interna, o fundo dos apartamentos para
os quais o meu
apartamento também se via como fundos. Por fora meu
prédio
era branco, com
lisura de mármore e lisura de superfície. Mas por
dentro a
área
interna era um amontoado oblíquo de esquadrias, janelas, cordames e
enegrecimento de chuvas, janela
arreganhada contra janela, bocas olhando
bocas.
O bojo do meu edifício era
como uma usina. A miniatura da
grandeza
de um panorama de gargantas e canyons(31)


O que eu estava vendo naquele monstruoso interior de
máquina, que
era a área interna de meu edifício, o que eu estava vendo
eram
coisas feitas,
eminentemente práticas e com a finalidade
prática.

Mas algo da natureza terrível geral - que mais tarde
experimentaria em mim - algo da natureza fatal saíra fatalmente das mãos da
centena dos operários práticos que havia trabalhado canos água e de esgoto,
sem
nenhum saber que estava erquendo aquela ruína egípcia para a qual eu agora
olhava com o olhar de minhas fotografias de praia. (p.
31-2)



E diante dessa casa labirinto de um eu, segue a personagem GH, invadida pela cruel banalidade da vida, das paredes radicalmente brancas, das baratas, seres milenares, que assustadoramente prosseguem por eras passeando sobre nossas ruínas.

Onde pra mim havia uma absurda escrita, revela-se aquilo que sempre tentamos esquecer, esconder, os cantinhos da casa, as baratas, o pó, os ferros retorcidos. Tudo revelado como um grande anti-clímax, um anti-suspense, qual a sina de GH? Seria lamber as eras incrustadas nas pré-históricas baratas pós-modernas?


1. LISPECTOR, Clarice (1925-1977). A Paixão Segundo GH. 6ª edição - Rio de Janiero: Nova Fronteira, 1979

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou sentindo dores de pontadas na minha canela direita. a agonia está se alastrando do meu joelho operado. nenhuma surpresa: nada de ruim, absurdo e contraditório me surpreende em se tratando desse universo de merda criado por um psicopata debilóide todo-poderoso.