sábado, 15 de outubro de 2011

de costas pro ar

não pensava sobre o assunto, mas sabia que ele iria bater à porta sempre, como um portal que nunca se fecha, sempre oferecendo possibilidades de propostas de cura para a solidão. voltava á rua, seus perigos, seu fedor de mijo esquina gente esquálida, quanta droga ainda teria que tomar para aliviar e aguentar. seu dinheiro tomado por crack do seu suor tomado por dores. e a cidade lhe invadia a pele como o calor de um dia quente inevitável. todos os olhos eram olhos vigilantes sem nunca terem sido observados. suas meninas e promessas duravam apenas até o amanhecer. com o sol acaba o brilho e o disfarce. acabam-se as promessas. e ele sempre insistia em acreditar que sempre estava enganado ao se enganar. perdia a certeza que todos os seus enganos viam por escolha própria. ali, onde seu coração estava era um lugar inóspito. hospitais honoris causa pululando seus desejos fetos. suas ardências pimentas cerebrais, seu cérebro estava sempre à espreita de gretas, de fumaças, de caquinhos no chão, seu cérebro espreita inimigos invasores imediatos ameaças constantes desequilíbrios estáveis palavras impalpáveis dores cimento e alcaloides sempre insuficientes, sempre à falta. seus monstros não deixavam seus anjos descansar, seus monstros sempre despertos como o próprio ar. e foi para o último prédio do último andar e largou-se de costas para não ver a inevitável decisão do seu último andar desandar. na boca ainda sentia o gosto de cinzas do éter do ar que lhe faltou ...

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