quarta-feira, 14 de abril de 2010

PEQUENO

Quando abri os olhos eu já não estava lá. Além da dança, as calçadas estavam vazias e brilhantes como rajadas de luz. Nem me lembrei dos transformers, eles pareciam tão impalpáveis e meu corpo dançava ao som da luz de postes de borracha. As minhas mãos eram só fogo na fragilidade que você jamais verá. Minha barriga era uma bateria de sons absurdamente soturnos, mas, mas, mas eu tentei, eu tentei, eu tentei passarelas até você, até mesmo quando você já não estava lá. Suas palavras nunca foram doces e eu nunca tive doces para me consolar, só o sol, a chuva e as sirenes vasculhando meus rastros. Mas eu tentei e segui, com baforadas do vento frio na cara e meus braços gelados agarrando meu corpo fugitivo. Nem balões rosas nem briquedos inofensivos, meu corpo desafia sua tranquilidade, e nem mesmo vi escrito por aí sutilidades. Mas meu corpo é leve e portátil com meus papelões casa-cama-refúgio. Sou tua sombra, sou tua sobra, sou teu desssabor, dessa boca que jamais dirigirá a mim palavras, dessa boca balão rosa de fantasias senis, dessa boca chocolate de sorvete enquanto degusto minha ausência. Porque ainda sobrevivo ao toque de recolher e minhas moradas estão por todas as ruas sem cidade, sem mocinhas a passaear com brancos cachorros leitosos. Meu leite é meu veneno, mas eu tentei até mesmo quando já não tentava nada.

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