quarta-feira, 28 de abril de 2010

Intensidade. Fantasmas. Heranças

Em todas as transferências afetivas que fiz: a intensidade. E, por isso, eu não saber conduzir as minhas palavras, transformando a ação em frustração. Ainda assim, não viro a página remexo em erros como quem revira vísceras, tendo uma falsa ideia de que estou apenas rememorando para não repetir erros, e me perco como um Minotauro. Por isso escrevo, como quem deixa marcas no caminho. Como quem quer provar a si o que se é, mesmo não sendo. Sempre para provar a mim. Sempre a provar a mim mesma com simbologias cujo significado nem mesmo sei. O que falo não é o que eu quero dizer. Não existe intencionalidade, é como se não soubesse a onde vou chegar. "Quando o poeta diz lata pode estar querendo dizer o incabível" (Giberto Gil).

E todas as confusões que faço fazem também uma confusão sobre o outro. E outro pode também agir de maneira esdrúxula, reticente e confusa. Sensações de fracasso são recíprocas, é falsa a ideia de competição num relacionamento seja ele qual for, o máximo que pode haver é um que goze mais e melhor com a dor. Ou quem está de corpo aberto ou com uma armadura. A tal expressão "a fila anda", como se tudo se transformasse em quantitativo é mera mitologia moderna, pois a fila é a própria simbologia da inércia. E a inércia que anda é a própria simbologia do fracasso em qualquer relação: de trabalho, de amor, psicanalítico, enfim. A tentativa de esquecimento é tão nefasta quanto a minha tentativa de revirar vísceras. O problema não está na recusa, mas em como a recusa é feita.

E se a gente for pensar a recusa a partir do ponto de vista historial, a nós, brasileiros, esta vem se sedimentando há séculos, anos de massacres diários, onde somos obrigados a partir sempre, sem muitas explicações, sem dar adeus, sem deixar flores ou recordações. Esta ausência pode ser chamada de indiferença. Admitamos: somos um povo sem elos, apesar dos nossos pesadelos recorrentes, apesar dos nossos imbróglios interpessoais. O que fizemos com o degredo ibérico, a dolorosa partida dos povos africanos e o genocídio tupi-guarani? Somos ainda uma mistura disso.

Não é um problema pessoal seu ou meu. Meu grande sonho e objetivo nesse mundo é tentar reverter, ao menos minimizar isto. Que seja apenas em uma micro escala, na esfera das minhas relações pessoais. Por isso não me sinto ridícula ou estúpida por, de súbito, trocar experiências distintas de vida, só assim eu acho que faz sentido viver. De outra forma não é viver, é sobreviver. É estar presa a procedimentos técnicos racionais que não servem para libertar e emancipar, mas tão somente para condicionar e adestrar.

Quero acreditar que eu posso fazer diferente. Vendo minha herança não como um fantasma, mas como um vento que muda sempre de direção.

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