quarta-feira, 21 de abril de 2010

CORPOCIDADE

Tudo que tem importância é papel sépia
Traças e caracóis de pensamentos
Revólver sem nem pedir desculpas
Você assim faz
Como um franco atirador de imagens
Como fraca refletora de si
Você assim faz, mas nem sabe
É falsa a ideia de te ter pra sempre
Nesse vício, as virtudes são heróicas
Mais uma vez grito seu nome
Você amplificadora nossa
Caixa de ressonância de abismos
Lacre da felicidade alheia
Salvaguarda do éter da inveja
Que viceja em móveis corpos
Mobile phones são teu refrão:
Cidade Morta
Cidade Adeus
Cidade Carne de mães alucinando filhos em preces nunca ouvidas
Quando o assunto é desabamento
Quando o assunto é contenção, não encosta
Sou teu arco, arpoador
Sou tua glória, teu orifício
Canabrava de badameiros e pérolas cultivadas
Sou teu perfume chanel quebrado nas escadas dos teus prédios
Sou o inferno da tua ceia repleta de sonhos americanos
De tantos plásticos brancos
E as bandeirolas são cadáveres do ritual cabloco que você chacinou
Sou bola e neve
Sou nuvem e céu
Sou sol e chuva
Sou a condensação do nada
Por ter tudo, você se diminui
Como um anti-fermento infernos de crianças iluminadas por restos de drogas
Que colam a tua mobília super-luxo
Sou éter do cadáver, feto, mal vestido e torpe
Sou teus filhos apátridas
Sou pastor da ovelha negra
Sou um negro quase branco de tanta palidez de vísceras vermelhas
Sou imortal, pois que sou tua peste
Pois que sou o teu não querer ser, assim teu infinito
Não precisa ter rosto, não precisa ter voz
Eu sei, você sempre se faz de desentendida
Como é próprio das damas vitrines
Sorrisos plásticos são moda: vão e vem
Como você que insiste em sempre ser
Mesmo tão distante de mim e de outros milhões de cajazeiras
De olhos Vesúvio
Você é cidade
Eu, apenas corpo
Você, voz da voz
Que eu até queria ouvir para uma acalento
Você é um querer sem nunca ter estado
E eu conheço artimanhas do subproduto de teus meninos senis, como eu
Envelhecidos prematuramente por nefrites e outras pneumonias
Sem nem sequer pneumáticos preservativos
Por que você me pariu?
Parta!
Ponta de lança presa aos meus fragmentos.
Arraste-me por eras
Esqueça teus fósseis
Eu sou novo e sou um deles
Certezas da metafísica da tua miséria
O teu querer ser constante
A tua ébria lucidez entorpecente, pois necessitas
E eu? Mais nada
Eu, mais nada que essa chuva ébria.

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